Lançado em 1995, A noite e escura e mais eu, de Lígia
Fagundes Telles, cujo título foi inspirado num poema de Cecília Meirelles, é
composto de nove contos, sete deles são contados do ponto de vista de mulheres,
os outros dois do ponto de vista de um cachorro e de um anão de jardim. Nesse
livro, o 12º de sua vasta produção literária e considerado a sua obra prima
entre seus livros de contos, a autora volta a temas recorrentes, como a morte,
a solidão, o amor e a velhice. Apostando no absurdo, Lígia mantém seu estilo
intimista, mesmo quando seus personagens passeiam em ambientes sórdidos.
É o caso do primeiro conto, Dolly, ambientado nos anos 20 e narrado
por Adelaide, uma jovem ingênua e conservadora, que, através de um anúncio de
jornal, conhece Dolly, que quer ser artista de cinema. Em Você não acha que esfriou?, Kori, mulher rica e infeliz, se envolve
com um homem que é apaixonado por seu marido. Em O
crachá nos dentes, um cachorro, maltratado no circo, assume por algum tempo
a vida humana.
Em Boa noite, Maria, a paixão de uma mulher de 65 anos por um homem
quinze anos mais novo expõe a crise da personagem diante da velhice e da solidão.
Em O segredo, a inocência da menina
que, ao jogar a bola no quintal do prostíbulo, tem um vislumbre da
prostituição. Uma mulher madura que construíra um passado para si, vê esse
passado colocado em dúvida pela professora decrépita que supostamente a
perseguira, em Papoulas em feltro negro.
Em A rosa verde, uma órfã de pai e mãe vai viver na fazendo dos tios
e, observando insetos e seres minúsculos com uma lupa, vê as semelhanças entre
esses e os humanos, com suas crueldades e mesquinharias. A paixão lésbica está
presente em Uma branca sombra pálida, quando
uma mãe à beira do túmulo da filha, questionando-a como ela foi capaz de se
relacionar com uma mulher, ao mesmo tempo em que entra numa disputa de
flores com a amante da filha (a mãe leva flores brancas, a amante, vermelhas). Por
fim, Anão de jardim, narrado, como o
próprio título sugere, por um anão de jardim, que tudo vê e desvenda os
segredos dos moradores da casa.
Impossível não ler. Se ler,
impossível não gostar...
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