Magistral o artigo do escritor e
jornalista Carlos Eduardo Doné para a edição de novembro da revista FILOSOFIA Ciência&vida, com o título
Amor e relacionamento versus felicidade. Baseando-se
nas ideias do filósofo alemão Arthur Schopenhauer e do francês André Comte
Sponville, Doné faz severas críticas ao cinema, às letras de músicas, aos
livros de autoajuda e até mesmo ao senso comum que estabelecem que somente é
possível encontrar a felicidade em dois tipos de relacionamento: aquele
ortodoxo, “a dois”, ou num estilo vida hedonista, comumente chamado de “vida de
solteiro”.
Para Schopenhauer, a sabedoria e,
por consequência, a felicidade é alcançada pela autossuficiência, pela
tranquilidade e pela busca ao ser em si. Para ele, todo desejo, seja o de laços
duradouros, seja o de relacionamentos efêmeros, nasce da falta, da carência, e
uma vez concretizado, perde o seu valor. Eis uma de suas máximas: “Bastar-se a
si mesmo; ser em tudo para si, e poder dizer ‘trago todas as minhas posses
comigo’”. Muito semelhante ao pensamento aristotélico: “A felicidade pertence
àqueles que bastam a si mesmos”. Sponville afirma que o amor não é o contrário
da solidão e sim a união de duas solidões que se completam. Para o pensador, o
amor “é a solidão compartilhada, habitada, iluminada pela solidão do outro”.
Realmente, as pessoas não
conseguem conceber a ideia de que é possível ser feliz sozinho. A solidão é
costumeiramente (e equivocadamente) associada à tristeza. Para muitos, é
preferível viver num relacionamento falido e danoso ao seu bem estar a viver somente
consigo mesmo. As pessoas não compreendem que a companhia de objetos como
livros e quadros pode ser mais salutar que companhia de pessoas. Ou atividades
como leitura, escrita e pintura podem ser mais proveitosas do que inefáveis
relações sexuais. As pessoas não se acostumaram a voltar-se para si mesmos nem
aprenderam a voltar-se para o outro, buscando sempre transformar esse outro
numa mero apêndice de si mesmo.
Vou concluir com uma frase do
poeta português Fernando pessoa: “A liberdade é a possibilidade do isolamento.
Se te é impossível viver só, nasceste escravo”.
Achei interessante o texto, parabéns!
ResponderExcluirVou pensar sobre isso.
Gostaria de deixar aqui um link para outro texto que vai nessa mesma linha, recomendo a leitura:
“Não se pode esquecer que para ser realmente independente é preciso aprender a passar pela solidão. O amor não é o contrário da solidão, e sim a solidão compartilhada”, diz Darder.
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/29/ciencia/1422546931_773159.html