“O maior apetite do
homem é desejar ser.
Se os olhos veem com
amor o que não é, tem ser”
Antes de ontem o poeta Manoel Wenceslau
Leite de Barros, ou simplesmente, Manoel de Barros, fez 96 anos. Nascido em
Cuiabá, foi para Corumbá (MS) com um ano, sendo considerado por muitos, ele
inclusive, corumbaense. Foi criado na fazenda do pai, com os pés no chão entre
currais e coisas “desimportantes” que marcariam toda a sua obra. Aos oito anos
foi mandado para o colégio interno em Campo Grande e depois no Rio de Janeiro.
Somente conheceu o gosto pelos estudos quando teve contato com a obra do padre
Antônio Vieira, através de quem descobriu que “o poeta não tem compromisso com
a verdade, mas com a verossimilhança” e que “servia era para aquilo: ter
orgasmo com as palavras”.
Ao deixar o colégio interno, dez
anos depois, conheceu a rebeldia através do poeta Arthur Rimbaud, teve contato
com pessoas engajadas na política, leu Marx e entrou para a Juventude
Comunista. Escreveu seu primeiro livro aos 18 anos, que não foi publicado, mas
salvou-lhe da prisão, quando teve seu único exemplar apreendido pela polícia. Seu
primeiro livro publicado foi Poemas
concebidos sem pecado (1937), com uma tiragem de vinte exemplares. Rompeu
com os comunistas em 1945, quando Luiz Carlos Prestes saiu da prisão para
apoiar o mesmo governo que o tinha prendido. Desiludido, voltou para o Pantanal.
De lá, andou pela Bolívia, Peru e Nova York, onde fez um curso de cinema e
pintura no Museu de arte Moderna.
Na década de 60, casa e retorna
ao Pantanal e passa a viver da criação de gado e da poesia. Seu trabalho só
passa a ser reconhecido nacionalmente na década de 80, quando foi descoberto
pelo escritor Millôr Fernandes e ganha, em 1987, o prêmio Jabuti com O guardador de águas. Diz que o anonimato foi "por minha culpa
mesmo. Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem frequentei
rodas, nem mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade
no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até
hoje", conta. Nem precisa mais! Manoel de Barros é
considerado um dos maiores poetas vivos do Brasil. Atualmente vive em Campo
Grande (MS). E muito vivo!
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