O livro Uma questão pessoal, lançado em 1963, logo após o nascimento do seu
primeiro filho, com grave deficiência, é
considerado a obra-prima do japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de literatura de
1994. A enfermidade do filho é tema recorrente na obra de Oe. Aliás, a obra de
Oe é fortemente autobiográfica. 14 contos
de Kenzaburo Oe, publicado pela Companhia das Letras, serve como carta de apresentação de sua obra. Essa coletânea reúne
textos escritos entre 1957 e 1990, onde ele lança seu olhar realista sobre o
mundo e a construção do seu universo inegavelmente japonês.
O primeiro conto (na verdade, um
roteiro), O armazém zoológico, é uma
exceção no livro, com seus hilariantes desencontros, comunicação falha e final
feliz. Os demais contos tratam os dramas humanos e suas tragédias. Em Salte sem olhar, um estudante de
literatura francesa (muitos personagens de Oe são estudantes de literatura
francesa, como o autor foi na juventude) vive um relação acomodada com uma
prostituta mais velha, sem nunca tomar a iniciativa de “saltar para a vida”.
Outro tema recorrente da obra de
Oe é a loucura, retrata no livro em três contos. Em Os pássaros, um jovem recluso no seu quarto acredita viver na
companhia de pássaros que o protegem da realidade. Em Convivência, um rapaz recém-formado acredita viver na companhia de
quatro macacos em seu quarto. E em Arghwii,
o monstro celeste, um homem acredita conversar com um bebê gigante que vem
do céu. Essa imagem representaria o filho deficiente (olha a deficiência presente
de novo!) que o homem matou.
A sexualidade está presente em
três contos. Em Exultação, encarado
como um existencialismo à japonesa, há uma forte tensão sexual entre o diretor
de cinema e sua jovem atriz. Em O homem
sexual, J esconde de sua segunda esposa a sua homossexualidade (essa seria
a causa do suicídio da primeira esposa). Em Seventeen,
conto que foi duramente criticado pela direita pela esquerda, um jovem
onanista compulsivo simpatizante da esquerda se torna ultradireitista.
Em A semana do idoso, Português brasileiro e Em outro lugar, é retratada um tipo de incomunicabilidade
tipicamente japonesa, em que algo importante deixa de ser dito na tentativa de
preservar a harmonia social. Os dois
últimos contos, Viver em paz e A dor de uma história, Oe pega emprestado
a voz de sua filha para retratar o delicado equilíbrio familiar, o que inclui
os cuidados com seu filho mais velho, portador de uma deficiência mental. 14 contos representa uma porta de
entrada não apenas para a produção de Kenzaburo Oe, mas para toda a literatura
japonesa.
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