- Você é um canalha! - Isolda
gritou com todas as forças. Andava na cozinha como uma leoa numa jaula.
- Mas eu não fiz nada. –
suplicava Luiz, praticamente encolhido numa das cadeiras da mesa.
- Você sabe que fez. – agora
falava mais baixo, mas com o dedo indicador voltado apontado para Luiz. – Eu
não sei exatamente o que você fez, mas você sabe.
Luiz olhava perplexo para Isolda
enquanto ela abria a geladeira, pegava uma lata de cerveja e tomava um gole
longo.
- Você está bêbada?
- Se é possível ficar bêbada com
um gole de cerveja, eu estou. – falou Isolda com sarcasmo.
- Você não está falando coisa com
coisa.
- Eu sou a bêbada, a louca, a
histérica! – voltou a gritar Isolda.
- Eu não estou dizendo isso...
- E está dizendo o que? –
interrompeu Isolda aos gritos.
- Nada. – Falou Luiz acabrunhado.
Luiz e Isolda estavam casados há
cinco anos e não tinham filhos. Dividiam a casa e o aluguel com Isabel, irmã de
Isolda e proprietária de um corpo de tirar o fôlego, razão para grande parte do
ciúme da irmã.
- Mas eu tenho muito que falar. –
Isolda toma outro longo gole de cerveja e praticamente esvazia a lata.
Luiz tinha trinta e um anos,
trabalhava como atendente numa farmácia e há muito tempo desistira de estudar,
parando no ensino médio. Isolda tinha vinte e nove anos, trabalhava como
secretária de um dentista bonitão durante o dia, razão de desconfianças de Luiz
e fazia pedagogia numa faculdade particular à noite.
- Faço sacrifícios para que você possa
estudar, meu amor. – costumava dizer Luiz para justificar a sua preguiça em
estudar, quando era cobrado pela esposa.
- Então pare de fazer sacrifícios
e vá estudar. – ela sempre retrucava.
Agora estavam ambos na cozinha de
casa, em mais uma discussão por causa dos ciúmes de Isolda. Isabel estava na
faculdade de ciências contábeis que fazia no período noturno.
Luiz estava de cabeça baixa,
fazendo bolinhas com migalhas de pão.
- Você nem se digna a pedir
perdão pelo que faz! – falou indignada Isolda.
- Mas o que eu fiz? – Luiz larga
as migalhas e põe as duas mãos no peito, em súplica.
- Você sabe! – grita ela,
apontando, mais uma vez, o dedo na direção de Luiz. - Deve-se pedir perdão até
pelo que não fez.
- Você está se referindo ao
episódio do banheiro?
- Já tá começando a aparecer! Que
episódio do banheiro?
Luiz observava com aflição as
veias da testa e do pescoço de Isolda, que estavam a ponto de explodir.
- Mas foi sem querer, Isinha. –
apressou-se em dizer.
- Isinha um cacete! Sem querer um
cacete também! Fala logo! E você está errando de pessoa. Isinha não sou eu!
- Eu ia passando em frente ao
banheiro quando vi, pela porta entreaberta a sua irmã no espelho. E através do
espelho eu vi o seio dela. Mas foi sem querer! – apressou-se em dizer e pensou:
“E que peitinhos”.
Isolda estava vermelha. Parecia
que ia explodir.
- E o que você fez?
- Eu não fiz nada... –
apressou-se em dizer Luiz.
- Esse é o seu problema, seu
idiota. – interrompeu Isolda – você
nunca faz nada.
- Não entendi.
- Esse é seu outro problema, seu
imbecil. Você nunca entende nada!
Luiz estava de boca aberta, sem
saber o que dizer.
- Você lembra no churrasco de
aniversário do Amílcar, quando a mulher dele, a Carla, deu em cima de você
depois que estava bêbada?
- Mas eu não fiz nada! -
Apressou-se em dizer, mais uma vez, Luiz.
- Esse é seu problema, Luiz. –
Isolda parecia resignada. Dirigiu-se à geladeira. Ao abrir a porta, virou-se
para Luiz.
- Você nunca faz nada.
Abriu mais uma latinha de cerveja
e deu um grande gole.
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