Martins está pensativo e exausto,
olhando através do espelho no teto aquele corpo esbelto que jaz ao seu lado na
cama, quando ouve a voz suave dela:
- Você faz tudo isso com ela?
Martins acorda dos seus
devaneios:
- Claro que não! Ela é a mãe dos
meus filhos.
Martins tinha 35 anos, era casado
há dez e tinha dois filhos. Publicitário bem sucedido, tinha encontros
esporádicos com Luciana, a morena estonteante que estava ao seu lado na cama, há
cerca de cinco meses.
- E isso é impedimento? –
pergunta Luciana.
- Claro que é!
- Simples assim?
- Simples assim.
- Cuidado, moço. A maternidade
não é um atestado de frigidez e falta de imaginação.
Luciana levantara-se da cama e
caminhara para o banheiro, enquanto Martins contemplava cada curva daquele
corpo escultural e lembrava-se da esposa. Apesar do corpo rechonchudo devido às
gravidezes, ainda não era uma mulher totalmente desprovida de encantos. Martins
sabia que a sua mulher atraia olhares masculinos e isso não o incomodava.
Afinal, ele era o pai dos seus filhos e ela não iria traí-lo, pensava, com um
leve sorriso nos lábios.
Ainda sou um homem desejável e
cheio de vida, pensava Martins. A minha criatividade na cama é ilimitada e isso
pode chocá-la. É uma pena, ainda divagava Martins, que a sua esposa via o sexo
apenas como uma obrigação conjugal e uma necessidade procriativa. Não posso
desperdiçar tanta criatividade, concluía Martins.
- Somos felizes assim – falou, em
voz alta, para Luciana.
E voltava a pensar na esposa. Era
uma mulher virtuosa. Buscava satisfazê-la na cama dentro dos limites que a
decência permitia. Temia ofendê-la se tentasse algo mais ousado.
- Se são felizes assim, ótimo. Mas
me responde uma coisa: depois de casar e serem felizes, o que vocês fizeram com
a necessidade de desejar? – Luciana voltara do banheiro e se vestia.
- Eu procuro você.
- E ela?
- Ela se contenta com a
maternidade.
Martins, preguiçosamente,
levanta-se e também vai tomar banho para vestir-se.
***
Carmen estava pensativa e
exausta, olhando através do espelho no teto aquele corpo escultural, de
músculos bem definidos que jaz ao seu lado na cama, quando ouve aquela voz máscula
que a excitava:
- Você faz tudo isso com ele?
Carmen desperta dos seus sonhos
eróticos recém-realizados pelo deus grego que está lhe fazendo a pergunta.
- Claro que não! Ele é o pai dos
meus filhos.
Carmen tinha 34 anos, era casado
há dez e tinha dois filhos. Dentista bem sucedida, tinha encontros esporádicos
com Diego, o garotão malhado que estava ao seu lado na cama, há cerca de um
ano.
- E isso impede alguma coisa?
- Claro que impede!
Diego levantara-se e fora ao
banheiro enquanto Carmen contemplava seu andar com aquela opulência nadegal e
lembrava-se do marido. Apesar da barriguinha proeminente inevitável com a idade,
ainda era um homem desejável. Mas nunca tivera grandes arroubos sexuais, nem
manifestara nenhuma fantasia sexual mais elaborada. Ter um amante não
despertava nela nenhum remorso. Acreditava que a felicidade estava na
variedade.
Carmen ainda se achava uma mulher
atraente e os olhares e “cantadas” de colegas e pacientes confirmavam isso. Sou
uma mulher muito criativa na cama, pensava ela. É uma pena que o marido visse o
sexo apenas como uma obrigação inerente ao casamento e o único meio de
procriar. Não posso desperdiçar toda essa minha criatividade, concluía
Carmen.
- Somos felizes assim. – falou em
voz alta para Diego, que estava no banho.
E voltava a pensar no marido. Era
um homem trabalhador, decente. Tentava satisfazê-lo na cama, mas se sentia
insatisfeita. Temia tentar algo mais e ofendê-lo. Ele era um homem muito
conservador!
- Se são felizes assim, ótimo.
Mas me responde uma coisa: você não se sente culpada por trai-lo? – Diego
voltara do banho e se vestia.
- Não. No meu caso o adultério
não é uma vingança contra o meu marido. Mas uma vingança contra a mediocridade
da vida conjugal.
- E ele, o que pensa disso?
- Ele não pensa nisso. – riu com
cinismo.
Carmen levantou-se
preguiçosamente e foi tomar banho.
***
Luciana e Diego estavam
estendidos na cama, exaustos.
Ele admirava as formas perfeitas
do corpo dela, a pela macia e os cabelos negros e compridos. Admirava-a por
associar uma beleza estonteante com uma inteligência suave e um raciocínio
prático.
- Como foi lá? – perguntou ele.
- Normal. – respondeu ela, sem
entusiasmo. – Sempre penso em você nessas horas.
- Quem bom que você sempre se
lembra de mim. – falou ele com um sorriso nos lábios.
Ela gostara de Diego desde que o
conhecera, há três anos. Era um homem realista e prático, além de portador de
uma beleza devastadora.
- Claro que sim. Sempre serei
leal a você. Nunca prometemos fidelidade um ao outro, mas lealdade.
- É verdade!
- E você? Como foi lá?
Diego lembrava-se de Carmen. Uma
mulher cheia de fantasias e tendo seus prazeres refreados por força de pudores
inexplicáveis.
- Foi bom. É como eu já te
falei...
- Sei. – interrompeu Luciana - Mas
eles são felizes assim, né?
- Verdade! Eles são
felizes...
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