quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Fome – Knut Hamsun


O personagem de Fome, do norueguês Knut Hamsun, prêmio Nobel de 1920, é intrigante e instigante. Apesar de possuir uma inteligência singular, vive numa miséria extrema. Não se sabe como o personagem foi parar na mais absoluta miséria. Mas não abre mão de seu orgulho e da sua honestidade. Segundo ele próprio “honesto nas profundezas da minha miséria”. Pedir esmola nem pensar, roubar, menos ainda. Escreve para comer e come para escrever. O problema é quem nem sempre tem o que escrever nem o que comer. Aí ele entra num ciclo de devaneios que variam da lucidez a insanidade numa rapidez difícil de acompanhar. Nunca sabemos qual o seu estado mental.
Quando tem o que escrever e, por consequência, o que comer continua na miséria por que distribui os parcos recursos que possui. E quando come, vomita. O personagem tem consciência de que não está no seu juízo perfeito. Que está na fronteira entre a loucura e lucidez, quando passava longos períodos sem comer, “era como se o cérebro lentamente me escorresse para fora da cabeça”. Mas não muda o seu modo de vida. Hamsun conduz a obra com maestria, colocando os devaneios do seu personagem no centro das atenções. Alguns consideram o autor norueguês como um dos criadores do fluxo de consciência (onde os pensamentos do personagem são retratados sem interrupção).
É uma obra atemporal, com poucas ações. O que prevalece são as reflexões do personagem-narrador. Por isso Fome é considerado um livro de vanguarda, para a época em que foi escrito, 1890, com ingredientes inéditos e cheios de paradoxos. É uma obra repleta de amarguras, sonhos e descrenças. Mas também, paradoxalmente, de alegrias, otimismo e esperança. Apesar da miséria reinante na vida do personagem, ele não desperta no leitor pena, mas admiração e, até mesmo, inveja.  

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