Muito bom o artigo do poeta,
ensaísta, tradutor e membro da Academia Brasileira de Letras Ivan Junqueira na
REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, do mês de agosto. Intitulado O salvador da ilusão, o texto trata da
influência da obra Dom Quixote, do
espanhol Miguel de Cervantes, na literatura Ocidental e, mais especificamente,
na literatura brasileira. Ivan Junqueira enfatiza a contribuição do escritor
espanhol à gênese do espírito moderno, somente comparável à contribuição de
Shakespeare. A obra-prima de Cervantes foi escrita num momento de transição,
entre a Idade Média e a Renascença, numa momento de dualidade histórico-filosófica,
onde o embate entre a fé e a razão, o idealismo e o realismo são frequentes. E essa
dualidade estará presente no personagem Dom Quixote de La Mancha.
A influência do livro na
literatura brasileira começa no século XVII com Gregório de Matos, num poema
escrito entre 1684 e 1687: Uma agulhada
por lança/Trabalhava a meio trote/Qual o moço de Dom Quixote/A que chamam
Sancho Pança. No século seguinte, o dramaturgo Antônio José da Silva, conhecido
como “O Judeu”. Escreveu a ópera jocosa Vida
de Dom Quixote de La Mancha. No século XIX, Machado de Assis faz referência
ao personagem de Cervantes num poema de 1856 e, por várias vezes, alude o autor
e sua obra no romance Memórias Póstumas
de Brás Cubas, de 1881, e nos contos Teoria
do medalhão, de 1882, e Elogio da
vaidade, de 1889.
No século XX, vários escritores
vão sofrer a influência de Cervantes nas suas obras. Na década de 30, Monteiro
Lobato publicou o seu Dom Quixote para
crianças. Em 1951, o folclorista Luís da Câmara Cascudo publica o ensaio Com Dom Quixote no folclore brasileiro. Antes
dele, José Lins do Rêgo, em 1943, deixa transparecer a influência do mestre
espanhol no livro Fogo morto, onde o
personagem Vitorino Carneiro da Cunha é uma espécie de Dom Quixote do sertão
nordestino. Entre os poetas do século XX a influência não é menor, estando
entre os poetas que pagam algum tributo a Cervantes Manoel bandeira e Carlos
Drummond de Andrade. A obra de Cervantes veio para ficar, não apenas pela sua
beleza estética e inovação de estilo, mas por que ela marca um período de
ruptura entre dos mundos e suas mentalidades: o mundo da Idade Média e o mundo
Moderno.
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