Um escritor talentoso com um
futuro promissor na literatura, lança dois romances e dois livros de contos e
depois anuncia, misteriosamente, que estava abandonando a literatura e que
todos devia esquecer a ele e a sua obra, afirmando que não acrescentaria “uma
linha que seja a uma obra que espero ver esquecida para sempre”. Refugia-se num
sítio em local incerto e ignorado. A sua atitude passa chamar mais a atenção do
que seus livros. De fato, sua obra foi esquecida sem demora. Esse é Silvério
Sombra.
No entanto, o escritor volta a
ser alvo da curiosidade no mundo literário. Não pela sua obra, repito, que foi
sumariamente esquecida. Mas pelos motivos que o levaram a tomar essa drástica
decisão. Principalmente depois que cunharam para ele o apelido de “Raduan sem
lavoura”, uma referência ao escritor Raduan Nassar, que depois de escrever uma
das obras-primas da literatura brasileira Lavoura
arcaica, abandonou a literatura em 1985. Com a diferença que Raduan não
pediu que esquecessem a sua obra, composta também por vários contos.
No blog, Toda Prosa, o jornalista Sérgio Rodrigues publicou uma entrevista
com o escritor (links abaixo), feita em seu sítio, localizado em local não
divulgado (uma das cláusulas restritivas que ele impôs para conceder a
entrevista). O tema central da entrevista não foi a sua obra, mas as razões
para que ele abandonasse a literatura. O escritor não foi claro, mas deu a
entender, depois de certa relutância, que o ego inflado das pessoas do meio
literário, a quem ele chama de “urubus”, “hienas”, “comerciantes frios”,
“menininhos lânguidos e ciumentos”, “uma gente sem alma e com idade emocional
de nove anos”, teria sido o motivo da sua decisão.
Silvério Sombra resolveu levar
uma vida reclusa e abandonar a literatura, uma decisão extrema, sem dúvidas.
Mas outros escritores também tomaram a mesma decisão e passaram a levar uma
vida reclusa, mesmo que tenham continuado a escrever. Além de Raduan Nassar e
de outro escritor brasileiro, Rubem Fonseca, um caso célebre é o do escritor
americano J. D. Sellinger, autor de O
apanhador no campo de centeio, que viveu num rancho até a sua morte. Thomas
Pynchon, autor de O arco-íris da
gravidade, também vive recluso e não se conhece mais do que duas ou três
fotografias dele. Será que viver no mundo literário é tão difícil assim?
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