Em 1994, Paulo Francis resolveu
fazer uma análise de fatos e personagens envolvidos direta ou indiretamente no
Golpe Militar de 1964 e publicou Trinta
anos esta noite (O que vi e vivi), seu
sétimo livro. A obra peca ao se estender além da conta nas memórias pessoais do
autor e ao analisar períodos que, a princípio, não estariam contemplados na
ideia inicial, que é o Golpe Militar. Mas o livro se torna saboroso e divertido
quando Francis começa a fazer o que mais sabia: falar mal de tudo. Da esquerda,
da direita, dos artistas, dos políticos, dos intelectuais, em suma, do
Brasil.
“Às vezes acho que aguentei tanto tempo viver no Brasil porque estava
em estado etílico na maior parte do tempo”.
Refere-se ao filólogo e diplomata
Antônio Houaiss como um “embusteiro e obscurantista”, “compilador de
dicionários e enciclopédias” e que por usar uma linguagem rebuscada, todos
achavam que era culto. Para Francis, a maioria dos acadêmicos “não sabe sequer
escrever”. Quando se referia a classe política não era menos incisivo. Falou
que quando conheceu Ulisses Guimarães, teve que fazer “um esforço de vontade
para não dar um salto para trás, fugindo do seu hálito”. Para ele, Sarney só
poderia se considerado um escritor “num país de parca alfabetização”.
“Livro não se empresta. Também não se empresta dinheiro ao brasileiro.
Não devolvem um e não pagam o outro”.
Mas não eram só as personalidades
que eram alvos do veneno de Francis. As ideias também. Principalmente o
nacionalismo e o socialismo. Afirmava que “nenhuma nação enriqueceu
pelo estado” e criticava a política econômica dos militares por esse “pecado”,
como também os governos que antecederam e sucederam os militares. Ao final do
livro, lamenta que nem mesmo um governo autoritário conseguiu implantar no
Brasil uma política econômica moderna. Concordando ou não com Francis, não se
pode negar que suas opiniões ácidas e divertidamente cáusticas são
inteligentes.
“Marx
achava impossível socialismo em país subdesenvolvido. Eu também. Dividir o
que?”.
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