Continuação de Cabeça de papel, a história de Cabeça de negro, publicado em 1979, se
passa nos governos de Geisel e Figueiredo. O jornalista Hugo Mann, alter ego de
Francis, está de volta. Estabelecido nos Estados Unidos, vem constantemente ao
Brasil, onde se encontra com o stalinista Álvaro, o psiquiatra trotskista Juca
Hansen e com ricaça excêntrica Maria, simpatizante da esquerda, mas casada com
Maneco, um ricaço que patrocina ações da repressão.
“Os muito ricos sofrem do pudor insuperável de discutir dinheiro,
exceto para negá-lo ou tomá-lo”.
“Boas cercas fazem bons vizinhos”.
Logo no início nos deparamos com
o assassinato do meliante que dá nome ao livro, que teria tentado estuprar
Maria. Na tentativa de evitar um escândalo, Hugo, com a ajuda do dinheiro de
Maneco, maquia a cena do crime. Passamos a imaginar que esse episódio terá
alguma importância no decorrer da trama. Não tem! Entre recepções e festinhas
da alta sociedade, pileques memoráveis e discussões ideológicas inócuas, Hugo
Mann se vê envolvido numa conspiração patrocinada pela KGB e por órgãos de
repressão brasileiros.
“Cristo nunca riu, minha primeira desconfiança dele”.
“A estupidez pode ser uma opção existencial”.
Cabeça de negro, apesar de menos intelectual e menos verborrágico
do que Cabeça de papel, ainda peca
pelos diálogos cuja função é, exclusivamente, registrar as opiniões, impressões
e percepções do autor. O leitor não consegue se sentir na pele dos personagens,
uma característica do bom romance. Se Francis tinha a intenção de escrever um thriller, pecou pelo excesso de
ideologia dos seus personagens, o que faz com que o enredo “se arraste”. Aliás,
isso é o que marca os dois primeiros romances de Paulo Francis.
“Não acredito em Deus, mas ele acredita em mim o bastante para fazer da
minha vida um tormento permanente”.
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