Acredita-se que Carne viva, último livro de Paulo
Francis, tenha sido escrito pouco antes da sua morte, em 1997. Não se sabe em
que momento a viúva, a também jornalista Sônia Nolasco, o descobriu. O fato é
que ele só veio à tona onze anos após a morte do autor, sendo publicado em 2008.
Carne viva não parece ser o terceiro
volume da tão sonhada trilogia que Francis queria escrever nos anos 70,
iniciada com Cabeça de papel, apenas
Paulo Hesse é mencionado de passagem pelo personagem Francisco Guerra, visto
durante os protestos estudantis de 1968, em Paris. E aí mora um mistério: Paulo
Hesse não tinha morrido em Cabeça de
papel?
“Em
que mundo vive essa gente? Numa fantasia de fraternidade, que se fosse levada a
sério voltaríamos todos à lavoura, ao arado, à carroça de bois.”
Esse
é o único “enigma” do livro. No mais, Francis cai no mesmo erro de Cabeça de papel: uma trama artificial
que é engendrada com a única finalidade de expor as opiniões do autor sobre o
Brasil, os homens, a política. E não é só isso: os diálogos entre os
personagens parecem artificias, forçados para atingir o mesmo objetivo da
trama, veicular suas ideias. Quando os personagens abrem a boca para falar,
parece ser o próprio Paulo Francis quem fala. Para quem gostava de ouvir e ler
o jornalista soltando seu veneno contra tudo e todos, Carne viva é a ultima oportunidade.
“Chega
de falar mal do Brasil. Não há países, nações. Há ambientes, pessoas, a maneira
que nos conduzimos com nossos amigos, parentes e relações.”
E
a ideia que Francis nos passa no livro é que a humanidade caminha para a
barbárie política, moral e de costumes. O banqueiro Francisco Guerra, casado
com a fútil Bebete, tem um caso amoroso com a cunhada, Maria Clara. Além disso,
vive um triângulo amoroso com a aristocrática Bea e o filósofo Beau, no universo
da elite financeira e cultural do Rio de Janeiro. Ao final do livro, as ruínas
de uma casa destruída por um incêndio é emblemática, conduzindo o leitor à uma
ideia de que “todas as paixões destrutivas pareciam gastas”.
“Morar na cidade (do Rio de
Janeiro) era como viver no paraíso, depois da queda”.
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