Estava semana passada numa longa
fila na casa lotérica quando entra um jovem casal, a mãe com uma criança no
colo (não necessariamente de colo) e dirige-se ao caixa preferencial.
Percebia-se que a criança queria ir para o chão, gastar seu estoque diário de
energia peculiar nessa idade, mas a mãe, entre cutucões e resmungos, não queria
se desfazer da “justificativa” para estar numa fila preferencial. Feita a
“fezinha”, o casal foi embora, envaidecido da sua esperteza sobre a multidão de
“otários” que esperavam na longa fila. Espertos, mas não corruptos. Corruptos
são os políticos!
Por falar neles, no final de
outubro a Câmara dos Deputados decidiu iniciar as obras de ampliação da Casa,
criando novas vagas de garagem, gabinetes parlamentares e um auditório. Valor?
400 milhões de reais que, segundo Beto Mansur (PRB-SP), viriam de reservas que
a Câmara guarda no Tesouro Nacional. Mas o Brasil não está em crise? Sim!
Deputados e senadores não vivem cobrando do governo corte de gastos, inclusive
de programas sociais, posando de cordeiros, arautos da probidade? Sim! E por
que ninguém (ninguém mesmo!) fala em cortar os gastos do Legislativo?
Cada parlamentar recebe um
salário de R$ 33,7 mil, mais auxílio-moradia de R$ 4,2 mil; Cotas (telefone,
passagens aéreas, correios) variando de acordo com o estado de R$ 30,2 mil a R$
44,9 mil; verba de gabinete no valor de R$ 92 mil. Além de plano de saúde para
toda a família e passagens aéreas para suas esposas com dinheiro do erário
público (ou seja, nosso). Somente com os deputados, os gastos serão de
aproximadamente R$ 75 milhões por mês. E até hoje não ouvi uma voz sequer
falando em cortes de gastos do Legislativo.
Para não dizer que só falo mal de
políticos, vou falar mal também do Judiciário. A partir de janeiro do ano que
vem, o salário dos ministros do Supremo passarão a ser de R$ 39,2 mil, mais
benefícios. Como esse reajuste gera uma cadeia de aumentos salariais em outros
cargos do judiciário, o impacto no orçamento federal será de mais de R$ 1
bilhão. Nem o ministro Gilmar Mendes, um dos maiores críticos do Governo,
reclamou do aumento.
Enquanto no legislativo e no
Judiciário se discute o teto salarial, a maioria das categorias profissionais
ainda luta para ganhar o piso, que muitas vezes não passam de R$ 2.000. Se existisse
um “porão salarial” a maioria dos profissionais estaria lá. Enquanto isso, o
fura-fila se acha “esperto”.
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