Se a literatura de Jack Kerouac é repleta de heroísmo
existencialista, Big Sur pode ser
considerado o romance da depressão, o lado dark do escritor. Depois do sucesso
de On The Road, de 1958, Kerouac, que
já não aliviava no consumo de álcool, passou a ingerir benzedrina e analgésicos
em doses industriais, inclusive durante a gestação dos seus livros. No início
dos anos 60, atormentado pelo sucesso alcançado pelos seus livros, o autor resolve
se isolar de todos numa cabana sem eletricidade do amigo Lawrence Ferlinguetti.
Big Sur, de caráter autobiográfico, lançado em
1962, foi escrito a partir desse isolamento. Escrito em apenas dez dias (On The Road foi escrito em três
semanas), mostra o sofrimento da existência caótica de Kerouac, a degradação da
sua saúde, a descrença espiritual a não aceitação da condição de ícone de um
movimento. Com suas descrições, divagações e alucinações, Kerouac escreve uma
obra sonora e poética. E triste! Sim, triste.
Podemos dizer que Big
Sur é uma espécie de continuação de On
The Road. Enquanto On The Road
mostra uma viagem de jovens escritores que, sem grana, só queriam conhecer o
mundo e as pessoas para servirem de combustível para seus escritos, Big Sur mostra um escritor atormentado
pelo sucesso, com a saúde mental e física em decadência e buscando nos seus
conflitos internos combustível para escrever.
Mas Kerouac é Kerouac. E o livro é sensacional.
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