O que dizer de Almoço nu? É um livro brutal, obsceno e desconcertante, nas
melhores acepções dos termos, se é que vocês me entendem. Eu não entendi! Mas
apreciei. E Almoço nu não é para ser
entendido, apenas apreciado. O próprio Burroughs resume: “Não tenho lembrança
precisa de ter escrito essas notas que agora são publicadas sob o título Almoço nu”. E não tem como lembrar. Ele
confessa que escreveu a obra encharcado de doses industriais de todos os tipos
de narcóticos disponíveis.
Apesar de mais velho e de origem
aristocrática, Burroughs fez parte da geração Beat, ao lado de escritores como Jack Kerouac e Allen Ginsberg,
lutando por uma nova literatura, liberdade de expressão e contra o moralismo
capitalista. Antropólogo e psicólogo de formação, casou e teve filhos, mas
encontrou a sua verdadeira paixão nos narcóticos, se tornando desde então,
Willian Lee, seu alterego também drogado e de sexualidade duvidosa.
Escrito de forma desordenada numa
quarto de hotel no Marrocos por um autor auto exilado, Almoço nu é um arrazoado de ideias esparsas abortadas por uma mente
encharcada de entorpecentes. Na verdade, a obra pode ser lida como sendo cada
parágrafo um texto a parte. Ou leia como quiser! O fato é que se você é muito
sensível não leia esse clássico da literatura marginal.
Só para ter uma ideia, um pequeno
trecho do livro:
“Um sentinela
fardado com um uniforme de pele humana, casaco negro e lustroso com botões de
dentes amarelos e cariados, camisa elástica de reluzente morenice indiana,
calças largas de bronzeado nórdico adolescente, sandálias feitas com as solas
dos pés cheias de calos de um jovem agricultor malaio, um xale cinza-pardo
envolto no pescoço e enfiado na camisa. (Cinza-pardo seria o tom obtido se
fosse possível espalhar cinzas sob uma pele morena. É por vezes encontrado em
mestiços de negro e branco; quando a mescla não é muito bem-sucedida, as cores
separam-se como óleo e água...).”
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