Foi com O cio da terra (vida e época de Michael K) que Coetzee ganhou o primeiro
Booker Prize, em 1983 (o segundo foi em 1999, com Desonra), um livro duro, trágico e melancólico. Durante a sua vida,
Michael K., um sujeito que se supõe negro, já que autor não deixa isso
explícito, pobre, feio e com lábio leporino, atravessa um processo que vai da
miséria social à pura e simples animalização.
Michael K. é jardineiro e um dia
resolve levar a mãe, uma senhora idosa e doente, de volta para a fazenda num
carrinho de mão. No meio do caminho a velha morre, mas mesmo assim Michael K.
continua sua viagem. Escondendo-se da polícia, vagando por uma África do Sul
convulsionada pela guerra civil, Michael vive à deriva em fazendas,
abandonadas, cavernas e campos de trabalhos forçados, de onde foge por seu
corpo esquálido não suportar o esforço físico.
Alimentando-se de raízes, insetos
ou de um cabrito que conseguiu matar afogado, o protagonista Vive sempre à margem
de tudo o que se acredita ser uma sociedade, isolando-se cada vez mais,
deixando supor que o contato direto com o mundo, sem o intermédio dos seus
semelhantes, parece ser o único refúgio contra a barbárie e a irracionalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário