Morreu ontem, aos 71 anos, o guitarrista e compositor Lou
Reed, provavelmente em decorrência de complicações após um transplante de
fígado feito em abril passado. Reed nasceu no bairro do Brooklyn, em Nova York,
em 1942, e aprendeu a tocar guitarra ainda nos anos 50. É dessa época uma das
suas experiências mais traumáticas e que seria tema de suas canções ao longo da
sua carreira: bissexual assumido foi submetido pelos pais a um tratamento de
choque para “curar” sua orientação sexual.
Em 1964, Reed fundou ao lado do músico galês John Cale, a
banda de punk rock Velvet Underground, que viria a se tornar uma das mais
influentes da história do rock. O disco mais conhecido da banda é The Velvet Underground and Nico, de
1967, cuja capa foi desenhada por Andy Warhol, outro mito do mundo pop. Reed
deixou a banda em 1970 para seguir carreira solo.
O primeiro grande sucesso dessa fase da sua carreira veio em
1972, com o álbum Transformer, que ajudou
a sedimentar seu nome como grande poeta da sarjeta com as canções Walk on the wild side (sobre cafetões,
travestis e sexo oral), Vicious (sobre
drogas) e Satellite of love. Intelectual,
Reed lia tudo sobre o submundo americano, e era fã dos escritores da Geração
Beat, como Willian Burroughs. Inclusive, quando a bíblia desse movimento, On the road, de Jack Kerouac, foi
lançada, Reed tinha apenas 15 anos e sua admiração pelo autor fez com que ele
imitasse o estilo Beat de ser e de viver.
E o estilo Beat de ser e de viver era intimamente ligado a
polêmicas. E Reed as adorava. Consumidor voraz de qualquer tipo de droga
ilegal, chegou a afirmar numa entrevista, 1974, que gastava quase todo o seu
dinheiro com elas. Bissexual assumido, em meados dos anos 70 conheceu Rachel,
uma transexual com quem viveu por três anos e lhe serviu de inspiração durante
a composição do disco “Coney Island Baby” (1976), acompanhando-o em turnês e posando
ao seu lado em fotos para revistas. Porém, a partir de 1978, o cantor
simplesmente se recusou a tocar no assunto e passou a se relacionar apenas com
mulheres.
Em 1975, Reed lançou se quinto disco solo, Metal Machine Music, considerado uma
brincadeira por uns, desaforo por outros, por subverter as estruturas
convencionais de composição. Muitos discos foram devolvidos às lojas e a
credibilidade de Reed ficou arranhada. Depois de ser considerado “o pior disco
do mundo”, se tornou cult e foi apontado como grande influência para gêneros como
o punk e o metal.
Lou Reed era um mito por que não conseguia ser convencional. E
não conseguia ser convencional por que a sua genialidade não permitia. Irá fazer
muita falta ao rock, um gênero cujo conceito se tornou difuso a ponto de
festivais, como o Rock in Rio, se fartar com estrelas que nem de longe fazem parte do rock.
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