Tem livros que provoca no leitor
a sensação de que, enquanto ler ouve uma música, ou um tipo de música. Para
provocar essa sensação, o livro tem que ser muito bom. No caso de O sol é para todos, da
norte-americana Harper Lee, a sensação que tive foi de que ouvia um jazz
enquanto o lia. O sol é para todos é
o único livro de Harper Lee. E nem precisava ter escrito mais nada! Harper Lee
não escreveu apenas um livro, escreveu um panfleto contra o racismo, uma elegia
à igualdade, uma ode à honestidade e à democracia.
A narradora é uma menina, Scout,
filha do advogado Aticcus e irmã de Jem. A família tem uma empregada chamada
Calpurnia e vive na cidade de Maycomb, no sul dos estados Unidos nos anos 30. Tom
Robinson, um rapaz negro, é injustamente acusado de estupro e cabe a Aticcus
defende-lo. A represália dos brancos da cidade à família do advogado não tarda.
E é aí que reside a beleza do texto de Lee: a incompreensão da pequena Scout,
que não entende como pessoas tão boas no dia-a-dia se tornam tão más somente
por que seu pai quer salvar um negro da cadeira elétrica.
O sol é para todos não deixa de ser um livro antirracista, mas a
mensagem principal é a aprendizagem das crianças a partir da conduta dos mais
velhos. Apesar de um tema tão pesado (o racismo), o texto não perde sua leveza
e a descrição do ritmo de vida na pequena Maycomb é fascinante. Um livro para
ser lido por advogados. Um livro para ser lido por humanistas. Um livro para
ser lido por todos...
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