O que leva um professor de
literatura espanhola da renomada Universidade de Oxford a gastar dez preciosos
anos de sua vida pesquisando sobre um sujeito que viveu toda a sua vida entre
livros, ficou cego na casa dos 50 e viveu com a mãe até os 75 (por que ela
morreu!)? O que fez com que a biografia desse sujeito tenha sucesso no meio
editorial? A resposta à primeira pergunta é que esse sujeito é Jorge Luís
Borges, o “mestre argentino” e um dos maiores poetas de língua espanhola. Para
a segunda pergunta, podemos dizer que o “aval” do maior crítico literário vivo,
Harold Bloom (aquele que reconheceu a genialidade de Machado de Assis, mas que
não leu Guimarães Rosa por que “não tinha mais tempo”) pesou.
Mas não foi somente o “aval” de Bloom
que fez de Borges: uma vida, do
inglês Edwin Williamson, um sucesso. O livro é bom! Williamsom fugiu do modelo
tradicional de biografia e tentou (com sucesso!) estabelecer a relação entre o
texto literário de Borges e o contexto pessoal do poeta, dividindo sua produção
artística em três etapas: a primeira é marcada pelo nacionalismo cultural e
pelos vínculos com as vanguardas europeias; a segunda é caracterizada pelo
pessimismo, pelo ceticismo e pela influência kafkiana; a terceira é de certo
retorno à paixão juvenil.
Em todas elas Borges tentou
romper com a ideia de que a arte deveria ser um espelho da realidade. E nisso
há uma contradição do poeta, que afirmou em certa ocasião: “Não criei
personagens. Tudo que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas
e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em
minha emoção". Ou seja, tudo que escreveu estava vinculado à
uma realidade.
Williamson conseguiu traçar o perfil literário
de Borges a partir das suas várias paixões femininas, mesmo o poeta vivendo
entre livros e tendo um temperamento retraído. O ponto crítico do livro está quando
o autor esmiúça as diferenças entre as várias tendências políticas na Argentina
do jovem Borges e as divergências filosóficas e estéticas entre os grupos literários
da época. Nesse trecho, o livro fica cansativo! Mas não chega a comprometer a
obra. Borges morreu em Genebra, em 14 de junho de 1986.
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