Aquele olhar, talvez, nunca mais o esqueça. Ausente
parecia focado em mim, a sua indiferença me perturba até hoje. Os meus olhos
vazios foram preenchidos quando o vi, o corpo que o carregava, cansado parou ou
foi parado por alguém, o pôr-do-sol pareceu ter se prolongado mais naquele dia,
pareceu sentir ternura e por isso não quis abandoná-lo.
Uma das mais belas imagens que vi nesta vida: o mar
quase escondendo o sol refletido naqueles olhos. Uma luz me aquecia com uma
fria sensação de calor.
Eu com medo de ter refletido em meus olhos a
brancura de um quarto hospitalar, caminhei por entre o mar, veloz como na
concepção, mas ali era o contrário, não havia concorrência, era eu sozinho,
diminuí o ritmo das b-r-a-ç-a-d-a-s realizando a eterna meia volta.
A boca selada pela areia, como uma mordaça revelava
o homem antes do pó.
Por covardia, ou sei lá o quê, retornei para a
minha eterna ausência de mim mesmo. Já aquele corpo sem um espírito que o
habitasse parecia repleto, como nunca fui.
Fernando Rocha da Silva,
Graduado em Letras, Professor, possui um livro de narrativas curtas inédito,
textos publicados em: O Relevo, Musa Rara, Cronópios e Literatura em Foco.
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