Para Rubens Figueiredo (foto
acima), tradutor da nova edição de Guerra
e paz, de Tolstói, escrever é colocar no papel sensações que, em princípio,
não se apresentam em linguagem verbal. Traduzir, para ele, é a mesma coisa, com
um agravante: o texto está em outro idioma. E traduzir um livro que está entre
os maiores clássicos de todos os tempos, de um escritor que coloca a alma no
que escreve, não deve ser das tarefas mais simples. Não é de se estranhar que
Figueiredo tenha levado três anos na espreitada.
Rubens Figueiredo aprendeu russo
meio por acaso, aos 17 anos, quando estudava na UFRJ, pois achava que era
“diferente” estudar o idioma dos comunistas em plena ditadura militar. Não
sabia ele que lhe seria de grande serventia no futuro para complementar o
salário de professor da rede estadual como tradutor. O escritor também traduz
livros do inglês e compara esse trabalho àquelas caricaturas da África Antiga
em que o lorde inglês é carregado num andor por nativos. O tradutor, no caso,
seria o nativo que carrega o andor.
A tradução que Figueiredo fez de Guerra e paz para a Cosac/Naify tem sido
muito elogiada pela crítica. Principalmente por causa da fidelidade ao texto
original, a maior crítica feita às duas traduções anteriores que circulam no
país. A tradução do crítico brasileiro Oscar Mendes é a menos apreciada, teria
sido feita a partir do francês. Já a do
escritor português João Gaspar Simões é considerada boa pelos especialistas,
mas não é fiel ao original e teria sido feita a partir de uma miscelânea de
diferentes traduções. Foi a tradução de Simões que Figueiredo leu pela primeira
vez o livro de Tolstói, aos 22 anos.
Sabe-se que a nobreza russa
adotou o francês como forma de distinção social, utilizando-o no seu cotidiano.
Tolstói o utiliza em várias passagens do livro nos diálogos dos seus
personagens. Nas traduções de Mendes e Simões, todas as passagens em francês
foram abolidas e traduzidas para o português. Figueiredo manteve as partes em
francês e traduziu-as em notas de roda pé. A repetição de palavras num mesmo
parágrafo é um método de Tolstói que muitos tradutores costumam alterar por
sinônimos por acharem a repetição deselegante. Figueiredo manteve as repetições
por achar que a mudança por sinônimos desfiguraria o estilo tolstoiniano.
Há algumas sutilezas de Tolstói
que costumam se perder em algumas traduções, como o fato dele chamar o
imperador francês ora de Bonaparte, ora de Buonaparte. Era uma forma irônica de
chamar a atenção para o fato de Napoleão não ser francês, mas ter nascido na
Córsega. Outra alteração foi a forma como Tolstói se refere á guerra contra
Napoleão. Simões a chamava de “Guerra patriótica”, já Figueiredo a chamou de
“Guerra popular”, assim como o próprio Tolstói.
Boa leitura!
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