Durante as manifestações pelo impeachment
da presidente Dilma, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP)
criou a campanha “Chega de pagar o pato”, que tinha como símbolo um pato
amarelo de 12 metros de altura, instalado em frente ao prédio da entidade na Avenida
Paulista. Um das principais articuladoras dos movimentos pró-impeachment
(chegou a servir almoço com filé mignon para manifestantes de verde amarelo), a
entidade não revela quanto gastou para conseguir tirar Dilma da Presidência, mas
é inegável que o investimento teve retorno garantido.
A fatura começou a ser cobrada
com a PEC 241 ou PEC 55, conhecida também como a “PEC do fim do mundo”, que
congela os gastos públicos por 20 anos com o objetivo de tirar as contas do
governo do vermelho. Como assim? Estamos em crise? Mas e o aumento de 41,4% dos
salários do Judiciário que vai causar um impacto de mais de R$ 22 bilhões nas
contas públicas em três anos? E cada deputado federal, que custa R$ 143 mil
mensais ou R$ 1,8 milhão/ano? E cada senador, que custa R$ 160 mil mensais ou 2
milhões/ano? Não ouvi nenhum parlamentar (de direita ou de esquerda, de
oposição ou de situação) falar em abrir mão de parte dessas mordomias. Tem
certeza que há crise?
A fatura continuou sendo cobrada
com a Reforma de Previdência, que foi enviada ao Congresso e deverá ser votada
(com modificações ou não) em breve. A proposta prevê aposentadoria integral
após 49 anos de contribuição e idade mínima de 65 anos para homens e mulheres
se aposentarem. O objetivo é economizar R$ 678 bilhões em dez anos e estancar a
sangria que a Previdência Social causa nas contas públicas. E a Previdência
está em crise? Como assim? E os militares não foram incluídos? E os
parlamentares? Em 2015, segundo a revista Exame, o governo deixou de arrecadar
R$ 40 bilhões por causa de isenções previdenciárias concedidas a pequenas e
médias empresas, entidades filantrópicas e exportadores agrícolas. Esse ano, a
previsão é que o governo deixe de arrecadar R$ 62 bilhões, um terço do rombo
previsto que é de R$ 180 bilhões.
Tem mais: O senador Hélio José
(PMDB-DF) é o relator do Projeto de Lei do Senado (PLS 409/2016), de autoria do
também senador Dalírio Beber (PSDB-SC), que cria mecanismos para permitir que a
União, estados e municípios possam reduzir os percentuais de correção de pisos
salariais nacionais, como o do magistério, os dos agentes de saúde e os dos
agentes de combate às endemias. O
senador Hélio José já deu parecer favorável à iniciativa na Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) e usa como argumento a “forte crise econômica”. Como
se o cinismo não tivesse barreiras, pede a “compreensão” dos profissionais
atingidos pela medida. Vamos pedir também a “compreensão” dos nobres
parlamentares para baixar seus salários e a retirada das suas verbas de
gabinete. Será que eles aceitariam?
Em Rondônia, a Assembleia
Legislativa acabou com o feriado na segunda-feira de carnaval, Dia do Comerciário,
alegando o “momento econômico mundial”. Mas o comércio não abria na
segunda-feira de carnaval? Sim! Mas por ser feriado, os comerciantes tinham que
pagar dobrado aos seus funcionários. Agora não! Ou seja, o governo não abre mão
da sua carga tributária, os lojistas não abrem mão da sua margem de lucro, mas
o comerciário é obrigado a abrir mão do seu poder aquisitivo.
Em Porto velho, o problema não
são as ruas esburacadas, enlameadas, fedorentas e escuras; muito menos as obras
inacabadas, as nuvens de mosquitos, a inoperância da Câmara de Vereadores ou o
excesso de cargos comissionados (mais de 1.400, que tiveram seus CDS
reajustados). Para a prefeitura, o problema da cidade está no “Quinquênio” dos 13.000
servidores municipais, uma gratificação que dá 10% de reajuste a cada cinco
anos. Pois bem, o prefeito, numa manobra na “calada da noite”, em conluio com
os vereadores, retirou esse “privilégio” dos servidores e colocou o seu
exército de comissionados para chamar os trabalhadores de “vagabundos” nas
redes sociais. Diante das pressões dos servidores e dos próprios vereadores,
que se disseram “enganados” pelo esperto prefeito, a medida foi suspensa por 90
dias.
Até os candirus do Madeira, o
lixo despejado na Baía da Guanabara e os esgotos jogados no Rio Tietê sabiam
quem ia pagar o pato. Você não? E agora,
ainda tem dúvida de quem é que vai pagar o pato?
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