“- Minha própria irmã reduzida à superstição das preces! Sangue do meu
sangue. Uma carola, uma beata! Que barbárie!”
O primeiro livro do chamado
“Quarteto Bandini” deveria ter sido Rumo
a Los Angeles, escrito pelo jovem John Fante em 1933. No entanto, por
razões desconhecidas, especula-se apenas que teria sido rejeitado pelos
editores por ter um conteúdo muito polêmico para época, só foi descoberto após
a morte do autor e publicado em 1985. A sociedade americana dos anos 30 não
estaria preparada para ouvir a narrativa do adolescente Arturo Bandini sobre
sua agitada vida sexual (na sua imaginação). O que hoje parece sutil e bem-humorado
na época era demasiadamente chocante.
“- Sim, a culpa é das mulheres. Elas escravizaram minha mente. Elas, e
só elas, são responsáveis pelo que aconteceu hoje”.
Nesse romance, Bandini é um jovem
culto (ou procura ser) que ler Nietzsche, Schopenhauer e Spengler e vive em
atrito com a mãe e a irmã por causa da religiosidade exacerbada de ambas. Com o
pai morto, sustenta a todos com um subemprego insalubre numa fábrica de peixes
enlatados e, ao mesmo tempo em que viaja em pensamentos grandiosos, despreza
com veemência a ignorância e a inércia de todos que o cerca. Nesses pensamentos
grandiosos, Bandini se imagina o Matador negro da Costa do Pacífico, o
informante de Roosevelt, o responsável pelo declínio da civilização das
formigas ou o grande amante das mulheres de papel, com quem faz sexo dentro do
guarda-roupa.
“- Não me importa no que você acredita. Qualquer um que dê crédito a
lorotas como a Ressureição e a Imaculada Concepção é um rematado idiota, cujas
crenças estão todas sob suspeita”.
Em seus delírios de grandeza,
Bandini desperta no leitor um sentimento ambíguo: ora a antipatia, por sua
covardia e imaturidade; ora compaixão, por ter tamanha carga de
responsabilidade com tão pouca idade. John Fante criou um personagem tão
assustadoramente humano mostrar uma sociedade injusta, bitolada e
contraditória. De tão humano, forte e abissalmente poderoso, Bandini, em alguns
momentos, chega a eclipsar a trajetória do seu próprio criador.
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