“Era um pedreiro e para ele não havia vocação mais sagrada na face da
terra. Você podia ser um rei; podia ser um conquistador, mas não importa o que
fizesse, precisava ter uma casa; e se tinha o menor bom senso, era uma casa de
tijolos; e naturalmente, construída por um homem do sindicato, na tabela do
sindicato. Aquilo era importante.”
John Fante é um caso curioso de
um grande escritor que só foi reconhecido depois de sua morte, em 1983. Apesar de
grandes romances publicados ainda em vida, Fante ganhou sobreviveu como roteirista
de cinema em Hollywood e sua obra (contos, ensaios e romances) só veio ser
reconhecida (e parte dela publicada) depois da sua morte. Ouvi falar de Fante
lendo a obra de Bukowski (“Fante foi meu mestre”) e, em 2014, li 1933 foi um ano ruim, um dos seus
romances póstumos, escrito nos anos 30, mas só publicado em 1985 e sobre o qual
escrevi nesse blog (http://tmetade.blogspot.com.br/2014/05/1933-foi-um-ano-ruim-john-fante.html).
“Ele veio, chutando a neve funda. Era um homem revoltado. Sentia frio e
havia furos em seus sapatos. Odiava a neve. Era pedreiro e a neve congelava os
tijolos que assentava entre a argamassa”.
Quase toda a obra de Fante tem
caráter autobiográfico, tendo Arturo Bandini como seu alter ego. Espere a primavera, Bandini, primeiro
romance do autor, publicado em 1938, mostra a infância de Bandini no Colorado. Durante
o inverno, seu pai, o pedreiro Svevo Bandini, ficava impossibilitado de
trabalhar, devido à neve. Isso significava dificuldades financeiras, a cara
feia do dono do mercado, onde a conta da família só crescia, e jantares à base
de ovos mexidos. Mas essas dificuldades não impedem Svevo de frequentar os
bares e chegar em casa todas as noites com cheiro de álcool (e de mulheres
também).
“Livros, não. Não houvera tempo para livros em sua vida dura e cheia de
preocupações. Mas havia lido mais a fundo na linguagem da vida do que ela,
apesar de seus ubíquos livros. Ele transbordava de um mundo de coisas para
falar”.
Mas Arturo e seus irmãos são
crianças e crianças não se preocupam com crises. Preferem dividir seu tempo
entre a escola e as peraltices típicas da infância. Até que seu pai não volta
mais para casa e vai morar com uma viúva rica que contratou seus serviços de
pedreiro. Vendo a tristeza da mãe, que deixa de fazer a comida dos filhos e
passa cada vez mais tempo trancada no quarto; e a desorientação dos irmãos, que
não conseguem entender porque o pai não voltou mais para casa, Arturo, como
filho mais velho, tenta agir para diminuir o ambiente pesado da casa. Com uma linguagem direta e uma narrativa
fácil, não é de se espantar que Fante tenha sido o mestre de Bukowski, para
quem ele é o verdadeiro criador da “Geração beat”.
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