“No período inicial da contracultura (...), Jack foi visto pelos
hippies, quando chegaram a se interessar por ele, como um reacionário de
direita alcoólatra, anti-hippie, anticomunista, defensor da Guerra do
Vietnã...”.
Quem ler a obra de Jack Kerouac,
praticamente toda ela de caráter autobiográfico, fica encantado pela sua
mística libertadora. Um sujeito que só sabia viver na estrada, descobrindo o
mundo, bebendo, se drogando, se relacionando com as mulheres que queria e com
os homens que desejava. E colocando, cuidadosamente, tudo o que via no papel,
escrevendo obras que ficaram para a posteridade e deram origem a um dos
movimentos mais originais até hoje (e que influenciou outros movimentos de
contracultura que vieram depois), o movimento Beat.
“Não há meios de saber se Memere (sua mãe) abusou dele em função das
suas próprias necessidades sexuais quando ele era pequeno, mas ela lhe propôs
sexo muitos anos depois, quando ele estava na casa dos 30 anos”.
O que emerge das páginas de Jack Kerouac: king of the beats, do escritor
britânico Barry Miles, publicado pela primeira vez em 1998, não nem nada dessa
aura mítica que nós estamos acostumados a associar a figura de Jack Kerouac. O
que vemos é um alcoólatra, machista, antissemita, oportunista e insensível que
não hesitava em procurar os amigos quando estava em dificuldades e esquecê-los
por completo quando tinha dinheiro. Chama a atenção dois aspectos da
sexualidade de kerouac: a paixão pela mãe (e dela por ele), o que atrapalhava
os seus relacionamentos com as mulheres; e a sua insistência em negar aspectos
da sua sexualidade, principalmente a sua tração por homens.
“Kerouac pode ter sido um grande escritor, mas quanto a valores
humanos, como compaixão, ternura e preocupação com os outros, revelou-se um
fracasso retumbante”.
O livro aborda desde o nascimento
de kerouac, em Lowell, no estado de Massachusetts, até a sua morte prematura,
causada pelo excessivo consumo de álcool e drogas. O capítulo seis é
especialmente dedicado a esmiuçar o contexto em que On The Road, sua obra-prima, foi escrita. Curiosamente, o livro só
foi publicado dez anos depois dos eventos narrados, com muitas edições e
mudanças, o que confundia muitos leitores, que achavam que os fatos narrados
eram da época da publicação. O grande mérito do livro é que permite ao leitor
conhecer não apenas o biografado, mas todos aqueles que, com ele, fundaram o
movimento Beat.
Nenhum comentário:
Postar um comentário