Famosos e premiado, nascido na França em 1958, Michel
Houellebecq é o tipo de escritor-filósofo que, ao invés de apenas escrever uma
história que entretenha, usa suas tramas para palpitar sobre tudo o que lhe
interessa, desde história e religião até costumes, passando por gastronomia e a
geopolítica do Mediterrâneo, sempre utilizando um olhar corrosivo. E ele não
foge dessa característica em Submissão, romance
lançado no início do ano, exatamente no dia do atentado ao jornal Charlie Abdo,
quando 12 jornalistas foram mortos, entre eles Bernard Maris, amigo pessoal de
Houellebecq, o que o levou a cancelar a turnê de promoção do livro.
François é um professor de literatura de meia idade da Sorbonne
que dorme mal, come mal e só se preocupa em manter romances com alunas duas
décadas mais novas. Homem culto e solitário que despreza o mundo ao seu redor, especialista
no grande representante do realismo Joris-Karl Huysmans, François descrê de
tudo, dos laços afetivos duradouros à socialdemocracia. E assim ia a vida do
professor até que um fato politico muda tudo.
Em 2022, Fraternidade Muçulmana chega a Presidência da
República na França, com Mohammed Ben Abbes, um líder muçulmano carismático e
moderado, e logo as mudanças se fazem sentir. O desemprego diminui por que as
mulheres devem ficar em casa; aumenta o auxílio-moradia, mas diminui o da
educação; a poligamia é incentivada (quem tem mais de uma esposa ganha mais do
que quem só tem uma). Com dificuldades para se adaptar à nova realidade,
François é induzido a se aposentar precocemente.
Meses depois é convidado a voltar para a universidade por um
amigo carreirista e agora convertido ao Islã (É emblemática a figura de sua
esposa mais nova, de 15 anos, vestindo uma camiseta da Hello Kitty). Mesmo
retornando à cátedra, François continua acompanhando tudo com a mesma
indiferença explícita, amoral e chocantemente neutra. O título do livro é uma
tradução literal de “Islã”.
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