“Esse tipo de vida que levamos é comum demais: está nos matando.”
Em 2012 li um livro de Charles
Bukowski pela primeira vez. Confesso que não morri de amores. Esperei três anos
para ler de novo aquele mesmo livro que não havia gostado (no caso, o livro de
contos Crônicas de um amor louco) e,
inexplicavelmente, fiquei fascinado pelo autor. Desde então, li toda a sua
prosa (não leio poesia) e meu fascínio aumentou a cada livro lido.
Recentemente, resolvi reler os livros de Bukowski e, para meu espanto,
redescobri novas facetas do Velho safado. Todos esses livros já foram comentados
aqui, mas vou publicar novamente os textos com as novas impressões que tive.
“Provavelmente eu não passava de um retardado e tinha que agradecer
apenas pelo fato de estar vivo”.
Primeiro livro de Charles
Bukowski, publicado em 1971, possui o estilo histriônico e seco que vai
caracterizar toda a obra do Velho Safado. Os diálogos com frases curtas se
baseiam nas vivências do velho Buk, que usa seu alterego Henry Chinaski (que
estará presente em quase toda a prosa do autor) para contar a vida de um quarentão
beberrão e mulherengo, mas, ao mesmo tempo, para criticar a América
desencontrada e suas instituições. Em Cartas
na rua, Bukowski usa Chinaski para falar da época em que trabalhou nos
correios, onde ficou até os 49 anos enquanto lutava para ser reconhecido como
escritor. No livro, o emprego não dura tanto tempo assim. Quando se aproximava
os três anos que lhe dariam estabilidade, Chinaski pedia demissão e ia viver
das apostas nas corridas de cavalo.
“A comida é boa para o espírito e para os nervos. A coragem vem da
barriga – tudo mais é desespero”.
Como nos outros livros de
Bukowski que seriam publicados nos anos seguintes, seu alterego é obcecado pela
instabilidade, não consegue passar muito tempo num emprego “normal”. De dose em
dose, o velho Chinaski vai pulando de emprego em emprego sem que nenhum o
satisfaça minimamente. Aqui ele conhece Joyce, uma jovem de 23 anos cheia da
grana (detalhe que ele desconhecia ao conhecê-la) que quer provar para a
família que consegue sobreviver sem depender de parentes e, para isso, obriga
Chinaski a achar mais um dos empregos “normais” para que ambos consigam se
sustentar sem recorrer ao auxílio da família de Joyce.
“mulheres nasceram para sofrer; não é de surpreender que peçam
constantes declarações de amor”.
Como isso vai acabar todo mundo já sabe: num
grande porre e o bebum saindo de casa e procurando alguma espelunca barata para
morar. Essa é a vida de Chinaski em todos os livros de Bukowski em que ele
aparece como protagonista: uma sucessão de empregos, porres e mulheres em que
um obcecado pela insegurança busca aventurar-se, fugindo do que pareça
convencional. A narrativa direta e hilária de Cartas na rua será uma constante na obra de Bukowski, um sujeito
que não criava realidades e acontecimentos nos seus livros, ele apenas escrevia
o que vivia.
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