sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
A costureira e o cangaceiro – Frances Pontes Peebles
A primeira coisa que me chamou a
atenção foi o título, uma temática nordestina. Depois o nome da autora, uma
mistura de pernambucana com norte-americana. Paguei (literalmente) para ler e
me dei bem. O livro é muito bom! Frances Pontes Peebles, autora de A costureira e o cangaceiro, é filha de
mãe pernambucana e pai norte-americano, nasceu em Pernambuco, mas vive e teve
formação acadêmica nos Estados Unidos, mora lá até hoje e escreveu o livro em
inglês. O livro mostra que a mistura rende bons frutos.
Em plena caatinga pernambucana,
mais precisamente em Taquaritinga do Norte, terra natal da autora, entre os
anos 20 e 30, as irmãs Emília e Luzia foram criadas pela tia, que lhes ensinou
o ofício de costureira. A educação de ambas foi idêntica, mas elas em nada se
parecem. Emília é mais bonita e sonha em ir morar na cidade grande e se vestir
igual às moças que aparecem na revista Fon
Fon. Luzia é mais nova, carrega um defeito no braço, consequência de um
acidente, o que a faz acreditar que não terá nenhum futuro brilhante e os
moradores da pequena cidade fazem questão de trata-la como uma aberração
A invasão de um grupo de
cangaceiros à pequena Taquaritinga vai fazer com que as vidas das irmãs
costureiras tomem destinos opostos. O líder do grupo, Falcão, se interessa por
Luzia e a leva com o grupo. Despojada do seu mundo (Luzia), Emília se sente
perdida, até conhecer Degas, um rapaz da cidade grande que a leva embora da
pequena Taquaritinga e casa com ela. O que parecia a realização de um sonho (um
príncipe encantado e a cidade grande) transforma-se num pesadelo que mostra a
Emília que a vida real é diferente do que ela lia nas revistas. Enquanto isso
Luzia perambula pela caatinga, se impondo à vida no cangaço e ficando famosa
como a única mulher do bando do cangaceiro falcão.
Apesar dos destinos opostos e de trilharem
caminhos sem volta, as irmãs vão sempre manter uma forte conexão uma com a
outra, sempre mantendo “contato” sem se falarem. Custa acreditar que uma
escritora que não viveu no país consiga fazer uma reconstituição histórica e
dos costumes do Brasil dos anos 20 com tanta propriedade, sem contar as
descrições da vida na caatinga. Um livro que não se pode deixar de ler... segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Cinema nacional: O homem do futuro
É impossível assistir O homem do futuro (2011), direção e
roteiro de Cláudio Torres, e não fazer uma associação com De volta para o futuro. O tema é o mesmo: o desejo humano, até hoje
não realizado, de voltar no tempo e consertar alguma besteira feita no passado.
O filme não pode ser considerado ficção, apesar de possuir elementos da ficção
que demandam efeitos especiais elaborados, pois mistura romance e comédia.
Zero (Vagner Moura) é um
cientista bem-sucedido que amarga uma desilusão amorosa no passado, mais precisamente
20 anos atrás, quando numa determinada noite foi traído publicamente pela sua
belíssima namorada, Helena (Alinne Moraes). Duas décadas depois, trabalhando
numa pesquisa sobre novas fontes de energia, Zero descobre que a máquina que
inventou para desenvolver fontes de energia sustentável para humanidade também é
capaz de mandá-lo para o passado. Com a ajuda do amigo e também cientista Otávio (Fernando Ceylão),
Zero resolve revisitar aquele fatídico final de 1991 e refazer seu futuro.
O destaque do filme é Vagner Moura,
como não poderia deixar de ser, atuando com a maestria de sempre e acertando a
maturidade ideal do seu personagem para cada momento da história. Os pequenos
deslizes não afetam a qualidade do filme, como os atemporais Gabriel Braga Nunes
(Personagem Ricardo) e Maria Luísa Mendonça (personagem Sandra) cujas idades
são incompatíveis com a fase universitária e a maquiagem não ajuda para
disfarçar a idade. Vale a pena assistir...
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Os rolezinhos e suas teorias
A onda agora é o rolezinho! Tudo
começou no final do ano passado, mais precisamente no dia 8 de dezembro quando
uma reunião de jovens, marcada por redes sociais, juntou cerca de seis mil
adolescentes no Shopping Metrô Itaquera, em São Paulo, e terminou em tumulto. Uma semana depois, outra reunião atraiu 2,5
mil jovens no Shopping Internacional de Guarulhos e novamente terminou em
tumulto. Desde então, esse tipo de evento tem acontecido em vários shoppings de
São Paulo (pelo menos por enquanto está somente em São Paulo) e,
invariavelmente, tem terminado em tumulto, roubo e depredações.
Os shoppings reagiram com
liminares na justiça para impedir que tais eventos ocorressem em seus domínios.
Logo surgiram sociólogos, psicólogos, antropólogos e toda espécie de
“masturbatólogos” que sabem tudo com suas teorias oligofrênicas imbecilizantes falando
em “apartheid social” e que as liminares iriam “estigmatizar” os tais grupos de
jovens. A socióloga Eliane Brum afirmou que “quando a juventude pobre e negra das periferias de São Paulo ocupa os shoppings anunciando que quer fazer
parte da festa do consumo “ é criminalizada.
Os políticos, do alto de seus
covardes discursos politicamente corretos, fizeram de tudo para se esquivarem
do problema ou ficarem do lado mais “fraco”. O governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin disse que “ida ao shopping não é caso de polícia”. Não governador, não
é! Desde que o sujeito não vá lá para depredar ao furtar.
Para a ministra-chefe da
Secretaria de Diretos Humanos da Presidência da República (Ufa!), Maria do
Rosário, os jovens devem ter preservados os seu direito de ir e vir. É mesmo? E
o direito de quem não quer correr no meio da multidão? E o direito de
comerciantes que querem trabalhar, mas são obrigados a fechar seus
estabelecimentos por medo de depredação e roubos? Segundo a Associação
Brasileira de Lojistas de Shoppings, o movimento caiu 25% naqueles
estabelecimentos onde esses jovens (os dos rolezinhos) tiveram o direito de “ir
e vir”.
Se os rolezinhos são
manifestações contra a elite e contra a discriminação racial e social, como
afirmam alguns “teóricos” adeptos do “pobrismo”, segundo a qual toda a
“verdade” emana das classes menos favorecidas, por que essa turba juvenil
somente se reúne em shoppings populares das periferias, vizinhos de comunidades
pobres? Por que não marcam suas “manifestações” em shoppings localizados em
áreas nobres onde estão os ricos, alvos dos seus protestos? É obrigação dos
shoppings protegerem seus lojistas e aqueles frequentadores (pobre ou rico,
negro ou branco) que lá vão para comprar ou passear. E as liminares conseguidas
na justiça tem essa finalidade!
Se um pobre e negro (ou pobre e
branco, ou negro e rico), ou qualquer outra pessoas, entra num shopping para comprar, ou simplesmente
para passear como qualquer ser civilizado, não há razões para barra-lo. Afinal,
na lógica capitalista, dinheiro não tem cor.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Mulheres – Charles Bukowski
Em 2012, li Crônica de um amor louco, de Charles Bukowski, e não consegui
enxergar a sua genialidade nos contos do livro. Mas, como afirmei naquela
ocasião, livro tem seu tempo para ser lido, acredito que tenha lido “o velho
safado” no momento errado. Após ler Mulheres,
romance de 1978, creio que vou ter que reler Crônica de um amor louco. Como em vários de seus contos, em Mulheres Bukowski aparece como
personagem, através de seu alter ego, Henry Chinaski.
Chinaski é um escritor beberrão e
viciado em corrida de cavalos que, aos 55 anos, está a 4 em jejum sexual. Depois
de um relativo sucesso de suas poesias, a vida sexual do embriagado Chinaski
começa a mudar. E muda radicalmente! Mulheres
é uma sucessão de aventuras sexuais do escritor, onde ele entra e sai da
vida de uma sucessão de amantes dos mais variáveis perfis. A única constância é
a bagunça que ele deixa ao sair de suas vidas.
Nesse livro, a genialidade de
Bukowski aparece na forma como ele mostra o mundo (dos desajustados) como ele
realmente é, usando uma linguagem sem afetação. Com um olhar cru, Chinaski
divide com o leitor detalhes sórdidos de sua vida sexual. Por isso, Mulheres é um livro para ficar nas
prateleiras mais altas da biblioteca, mas que deve ser lido, mais cedo ou mais
tarde... segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Cinema nacional: Bufo & Spallanzani
Baseado no livro homônimo de
Rubem Fonseca, Bufo & Spallanzani (2001),
dirigido por Flávio R. Tambellini e roteiro do próprio Rubem Fonseca e Patrícia
Melo, faz jus ao livro. Sabemos que as adaptações cinematográficas dificilmente
são tão boas quanto os livros que as inspiram. Não é o caso de Bufo & Spallanzani, que com uma
história condensada e um número reduzido de personagens com relação ao livro, é
muito bom.
O detetive Ivan Canabrava (José Mayer)
trabalha numa corretora de seguros que, desconfia, está sendo ludibriada pela
viúva de um fazendeiro que morreu logo depois de fazer um seguro altíssimo. Durante
as investigações, descobre no apartamento da suposta viúva um sapo (bufo) e uma
planta tóxica que, usados conjuntamente, faz com que a pessoa pareça morta.
Ao lado da jovem Minolta (Isabel
Guéron) e do cientista Ceresso (Juca de Oliveira), Canabrava faz revelações que
em nada agradam ao seu chefe na seguradora, doutor Eugênio (Gracindo Jr.).
Apesar deser enquadrado no gênero drama, Bufo
& Spallanzani tem momentos engraçados. Mas independente do gênero a ser
enquadrado, o filme representa um dos grandes momentos do cinema nacional. sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Com a morte na alma – Jean-Paul Sartre
Em Com a morte na alma, terceiro e último romance da trilogia Os caminhos da liberdade, do filósofo
francês Jean-Paul Sartre, escrito em 1949, a guerra é uma realidade. A França
está ocupada pelos alemães em junho de 1940 e os personagens construídos no
primeiro volume, A idade da Razão, que
representam a consciência conflituosa e multifacetada da própria Europa no
segundo volume, Sursis, agora amargam
a realidade de uma França vencida e entregue aos nazistas.
O livro é o relato de três
personagens: Mathieu, um professor de filosofia num batalhão de soldados pouco
instruídos que não sabem o que fazer quando são abandonados pelo general;
Daniel, homossexual que tem como objeto de desejo um jovem poeta que tenta o
suicídio; e Brunet, comunista preso num campo de concentração, que mesmo
entregue à fome e ao abandono, não desiste das suas ideias.
A ideia principal do livro de
Sartre é mostrar que a história é mais forte do que o ideal burguês de
liberdade da cada um. E num estado de guerra em que o seu pais é invadido os
personagens percebem a necessidade de suspensão desses princípios individuais,
com a dissipação dos egos. Ao mesmo tempo em que esses mesmos personagens tomam
consciência da dignidade da resistência individual à ocupação alemã.
Complicado, não? Mas faça um esforço que vale a pena...segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Cinema nacional: Herbert de perto
O músico Herbert Vianna,
vocalista da banda Paralamas do Sucesso é, indiscutivelmente, um dos ícones
daquele movimento musical que ficou conhecido como “Rock dos anos 80. Mas o
documentário Herbert de perto (2009),
dirigido pela dupla Robert Berliner e Pedro Bronz, não é um filme apenas sobre Herbert, mas sobre
a banda toda, e não mostra apenas a trajetória de um ídolo, mas a fantástica história
de superação pessoal de um trauma pelo qual Herbert passou.
O documentário traz imagens do
grupo desde 1983, passando pelo auge do sucesso no início dos anos 90, o
acidente de avião que o vitimou, em 2001, e imagens inéditas da sua recuperação
no hospital Sara. Tudo isso ancorado em depoimentos dos companheiros do grupo,
Bi Ribeiro e João Barone, membros da família Vianna, colegas de outras bandas,
como Dado Villa-Lobos, da Legião, produtores musicais e até o ex-ministro da
cultura, Gilberto Gil.
Percebe-se, no documentário, que
o acidente que vitimou Herbert representa um divisor de águas. Antes, a alegria
do rock e a irreverência juvenil dos anos 80. Depois, a comoção, os diagnósticos
nem sempre animadores, a falta de memória e a lenta recuperação. Observa-se nas
feições do músico e nas suas composições pós-acidente o quão marcante esse
episódio foi na sua vida. Um documentário para todas as idades. Para quem viveu
é bom relembrar. Para quem não viveu é bom conhecer. sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Charge do Amarildo: Carro zero na garagem
Brasileiro é assim: o filho estuda em escola pública, enfrenta fila em posto para não pagar plano de saúde, a casa está caindo aos pedaços ou paga aluguel, mas o carro é zero quilômetro....
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Sursis – Jean-Paul Sartre
A segunda parte da trilogia Os caminhos da liberdade, do escritor
francês Jean-Paul Sartre, escrito em 1947, não é um romance sobre a guerra, mas
um romance sobre a sombra da guerra, que se avizinha depois da assinatura do
Acordo de Munique, pelo qual Inglaterra, França e Itália concordam em entregar
a Tchecoslováquia aos alemães. Toda a história se passa exatamente nos oito
dias que antecedem a assinatura do Acordo e a tensão é visível na narrativa e
nos diálogos entre os personagens.
Todos os personagens do volume
anterior da trilogia estão presentes e, mais uma vez, a liberdade é centro da
discussão. Em Sursis, a liberdade
individual é ilusória, estando subordinada aos acontecimentos políticos, ao
curso da história. Cada grupo político da época, pacifistas, belicistas, a
burguesia, os letrados, os analfabetos, vão buscar a sua liberdade de acordo
com o que as circunstâncias políticas lhes oferecem, seja se alistando, seja
desertando ou protestando contra a guerra.
O fascinante no livro é o caos na
narrativa, uma mistura de histórias de cerca de 12 narradores, o que dá uma
ideia do caos vivido pelos europeus nos momentos que antecedem a segunda Guerra
Mundial. Esse caos e a tensão vividos pelos personagens transpassam as páginas
de Sursis e chegam ao leitor. Um
livro fantástico! segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Cinema nacional: Favela On Blast
Dizer que o funk é moda, que é
pura e simples apologia ao sexo e às drogas e que não tem nada a dizer, não
passa de preconceito. As origens do funk remontam os EUA dos anos 30 e estoura,
com modificações, nos morros cariocas a partir dos anos 80. As letras são
sofríveis? São como a de muitas músicas regionais, como o forró e o carimbo.
Faz alusões ao sexo e as drogas? Faz como outros estilos musicais, inclusive o
tão cultuado rock.
É o que tenta mostrar, às vezes
de forma capenga, o documentário Favela
On Blast (2008), dirigido por Leandro HBL e Wesley Pentz. O documentário
peca ao falar apenas superficialmente sobre as origens do funk e a movimentos
como o Furacão 2000, que foi de
fundamental importância para a disseminação do ritmo para outras camadas sociais.
Mas é eficientíssimo ao fazer o que não queria: mostrar o funk apenas como um
estilo musical que faz apologia ao sexo e às drogas.
É comum as cenas bizarras de anãs
nos palcos fazendo poses sensuais ou casais simulando cenas de sexo. O
documentário, infelizmente, pratica um desserviço a um movimento já tão
bombardeado por muitos, mas que, na sua essência, não é diferente de outros
movimentos musicais, que tem música boa e música ruim. O funk, mais uma vez
como outros movimentos musicais, tem letras que refletem o ambiente em que
surgiu. Ou soaria original funkeiros falando de bois e vaquejadas? quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
A idade da razão – Jean-Paul Sartre
Primeiro volume da trilogia Os caminhos da liberdade, do francês
Jean-Paul Sartre, A idade da razão se
passa na Paris boêmia dos anos 30 e conta a história de Mathieu Delarue, um
professor de filosofia que recebe a notícia de que a sua namorada não assumida,
Marcelle, está grávida. Amante da
liberdade, Mathieu ver no filho que nascerá e no consequente casamento com
Marcelle, uma prisão. Para preservar a sua liberdade, a única saída é o aborto,
proposta que Marcelle, amante servil, aceita.
Começa o périplo de Matheu por
Paris em busca de dinheiro para realizar o aborto. A primeira tentativa é com o
irmão, Jacques, um tabelião moralista e bem sucedido, que questiona os seus
valores, como a liberdade almejada, mas não tem o dinheiro necessário para mantê-la. A
segunda tentativa é o amigo Daniel Sereno, uma alma perversa que nega o
dinheiro a Mathieu, mesmo tendo-o, somente para vê-lo sair da sua pose de
equilíbrio e virar uma pessoa comum. Ao mesmo tempo, Daniel procura Marcelle,
convencendo-a a se impor e não fazer o aborto.
Cada personagem tem algo a dizer.
Boris, amigo e discípulo, que se relaciona com Lola, cantora alguns anos mais
velha que tenta negar a idade se relacionando e tentando dominar um amante mais
jovem. Ivich, irmã de Boris, menina problema que chama a atenção de Mathieu, a
ponto deste se deixar dominar por ela.
O que Sartre pretende em A idade da razão é discutir o conceito
de liberdade. O homem nasce livro, porém não é uma liberdade absoluta, mas
condicional, já que o ser humano é um ser-em-situação, e sua liberdade está
condicionada às circunstâncias em que está inserido. É o caso de Mathieu,
jovem, bonito e inteligente, mas não tem dinheiro para interromper uma gravidez
que o colocará dentro de um casamento indesejável. Um livro imperdível...
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