“Na maior parte do tempo, trabalho para uma empresa de limpeza. Escravo
em tempo integral. Deus em meio período”.
Até a publicação de Clube da luta (1996), seu primeiro
romance, Chuck Palahniuk era apenas, aos olhos do grande público, um moderno
escritor marginal e mal compreendido da literatura americana. Com o sucesso do
livro (e também da sua adaptação para o cinema), Palahniuk se tornou um dos
grandes nomes da literatura do seu país e passou a escrever freneticamente. Sobrevivente, seu segundo livro,
publicado em 1999, foi incumbido de ser o sucessor de O clube da luta, mas não ficou à altura, como, de resto, seus
outros romances que li. Tem-se a impressão que Palahniuk gastou toda a sua veia
crítica, sarcástica e contundente no primeiro romance. Alias, percebe-se que
ele usa exatamente a mesma fórmula.
“Do pó vieste, ao pó retornarás. Isso é que é reciclagem”.
O personagem-narrador é Tender
Branson, que está sozinho num avião que ele mesmo sequestrou, esperando o
combustível acabar e a aeronave se espatifar no chão. Enquanto isso não
acontece, ele vai narrando para a caixa-preta a sua vida como membro de uma
seita de fanáticos que cometeram suicídio coletivo. Como é regra na seita, por
não ser o irmão mais velho, é obrigado a viver na cidade, onde se sustenta
trabalhando numa mansão onde nem conhece os donos e à noite tem uma
personalidade oculta: incentiva depressivos a se matarem. Misteriosamente,
todos os membros da seita que vivem fora dos seus domínios cometem suicídio e,
quando só resta Branson, ele vira uma celebridade.
“As pessoas que compram um messias querem qualidade. Ninguém vai seguir
um fracassado”.
Assessorado por um especialista
em marketing, sua vida se transforma, virando, do dia para noite, numa
celebridade religiosa campeã em venda de livros e palestrante que atrai
multidões. Depois da transformação repentina de sujeito decadente em líder
religioso, a vida de Branson sofre outra reviravolta, o que o leva a sequestrar
o avião. Usando a mesma linguagem de O
clube da luta, onde faz duras críticas ao consumismo, em Sobrevivente o alvo de Palahniuk é a
cultura das religiões e a imposição de estilos de vida. O Branson decadente ou
celebridade é obrigado a viver de acordo com padrões que ele não escolheu.
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