“Enfurecia-o pensar que ainda havia pessoas
no país que acreditavam num Deus bondoso e misericordioso”.
No final dos anos 30, o escritor
Graham Greene viveu no México fugindo de uma ação judicial movida pela Twentieth Century Fox após o escritor te
feito críticas à atuação da atriz Shirley Temple (então com oito anos) no filme
Wee Willie Winkie (1937). No período em que ficou no país, Greene
visitou as províncias de Tabasco e Chiapas, palco de ferozes perseguições a
padres católicos nos anos 20, durante a Revolução Mexicana. O resultado das
visitas foi o livro O poder e a glória, seu
oitavo livro, publicado em 1940 e considerado pela revista Time um dos cem melhores romances do século XX.
“Acreditar em Deus faz as pessoas covardes”.
A história se passa nos anos 20,
durante a Revolução Mexicana, quando a perseguição aos padres das regiões
pobres do país fez com que mais de 4.000 padres fugissem ou fossem fuzilados
como traidores da pátria. Menos dois: padre José, que abjurou da sua fé e
casou, sendo constantemente ridicularizado por todos; e o outro, que não ganha
nome na narrativa, é bêbado, teve uma filha com uma camponesa e vive fugindo da
perseguição policial com o apoio de moradores pobres da região. O terceiro
personagem é o tenente, também sem nome, que empreende uma obsessiva
perseguição ao padre fugitivo.
“A esperança é um instinto que só o raciocínio humano pode matar”.
A ironia está nos personagens do
padre fugitivo e do tenente que quer “limpar” o país das superstições e da
corrupção clerical. Enquanto o padre é pecador, vive seus dramas de consciência
e recusa-se a ouvir a confissão dos fieis, o tenente é austero e abstêmio,
vivendo indiferente às paixões da carne.
É impressionante a capacidade de Greene de narrar cenas admiráveis, como
aquela em que o tenente reúne todos os habitantes da aldeia onde o padre se
escondia e este fica esperando ser delatado; ou aquela em que o padre, faminto,
disputa um pedaço de osso com uma cachorra moribunda.
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