Nikolai Leskov (1831-1895) foi um
escritor de fama tardia, mas, a exemplo de dois dos seus fãs, Anton Tchekov e
Máximo Gorki (este último disse que Leskov “é o mais russo dos escritores
russos”) é considerado um dos maiores contistas russos de todos os tempos. Leskov
nos mostra que literatura e política não devem andar muito próximas. Na
primeira metade do século XX, foi censurado por Stálin, enquanto era vivo
desagradou ateus revolucionários e ortodoxos monarquistas por seus pensamentos
progressistas. Daí a razão do ostracismo em que sua obra esteve submersa até
hoje. Quando se fala em literatura russa, Leskov é relegado ao esquecimento.
Para trazer a tona o talento de
Leskov, a Editora 34 lançou uma reunião de contos em dois volumes: o primeiro
deles é A fraude e outras histórias
(o outro é Homens interessantes e outras
histórias, sobre quem falarei na próxima semana). O livro é composto de
seis contos, um capítulo dedicado a falar dos contos, escrito pela tradutora da
obra, Denise Sales, e um ensaio sobre o escritor escrito por Elena Vássila.
No primeiro conto, Kótin, o provedor, e Platonida, Leskov
mistura tragédia e comédia, com o fantasmagórico dando a tônica da história,
que desemboca num final inesperado; em Águia
branca, o personagem assume várias facetas, misturando o real e o
fantástico; em A voz da natureza, a
história se passa na zona rural e o mistério é desvendado pelo som de uma
trombeta; no conto de título ao livro, A
fraude, encontramos algumas mazelas da sociedade russa do século XIX, como
o antissemitismo e a xenofobia; em Alexandrita,
vem a tona as crendices e superstições do povo russo; no último conto, A propósito de A Sonata a Kreutzer, Leskov
toca na questão feminina na Rússia do século XIX. Um livro imperdível...
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