Quando falamos da Geração do rock
dos anos 80, os nomes que surgem são o da Legião Urbana, Titãs, Capital
Inicial, Lobão, Kid Abelha e mais alguns poucos. Quem gostar muito daquele
período especialmente fértil da música brasileira vai lembrar artistas que fizeram
sucesso naquela época, mas desapareceram nos anos seguintes, como Zero, Metrô,
Blitz, Rádio Táxi, Sempre Livre, Hanói Hanói, entre muitas outras. Mas quase ninguém
lembra daqueles que contribuíram de forma decisiva para que essa fase, que é considerada
por muitos como a mais fértil da música brasileira, acontecesse. Entre os que
não são lembrados pelo público está o jornalista, cantor, guitarrista,
compositor e DJ Júlio Barroso.
Nascido no Rio de Janeiro em
1953, de família rica, radicou-se em São Paulo ainda adolescente. No anos 70
foi editor da revista Música do Planeta
Terra, com a colaboração de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil;
participou da revista Som três, com
entrevistas e uma coluna chamada “Toda
taba ateia som”; e foi disc-jóquei (o que hoje é chamado de DJ) em várias casas
noturnas em São Paulo, dentre elas a Dancin’
Days, do jornalista, compositor e escritor Nelson Motta. Em 1981, junto com
a sua banda recém-formada Gang 90 e as
Absurdettes, participa do Festival MPB-Shell, promovido pela Rede Globo,
com a música Perdidos na selva, uma
parceria com Guilherme Arantes.
Para montar a banda Gang 90 e as Absurdettes, se inspirou
nas bandas que curtia, como Talking Heads e B-52’s. era uma banda meio anárquica
com três banking vocals desafinadas e um vocalista (ele próprio) que não cantava
nada. Mas deu certo! Alias, nos anos 80
tudo dava certo. Pelo menos por um tempo. Em 1982, Júlio viaja aos Estados
Unidos e toma contato com artistas do movimento New Wave. Na volta ao Brasil,
no ano seguinte, coloca toda a sua experiência norte-americana no primeiro
disco da banda, Essa tal de Gang 90 &
As Absurdettes, com músicas que fizeram grande sucesso, como Nosso louco amor (foi tema da novela das
8 Louco Amor, de Gilberto Braga), Telefone e a já conhecida Perdidos na selva. No mesmo ano participam
de um especial da TV Globo, Plunct,
Plact, Zuuum.
Júlio Barroso, que sonhara em “ficar
velhinho fazendo música”, não teve tempo de lançar o segundo disco da banda. Em
6 de junho de 1984, aos 30 anos e enfrentando sérios problemas com drogas e álcool,
morreu ao cair do 11º andar do prédio onde morava. A hipótese de acidente é a
mais aceitável. Segundo Lobão, grande amigo de Júlio Barroso, suicídio ”não era
a dele”. Ao lado da Blitz, de Evandro Mesquita, a Gang 90 foi pioneira do Rock
dos anos 80, adotando uma atitude pop em um mercado então dominado pela MPB e colocando
uma geração de músicos, até então na marginalidade, na programação das rádios e
das TV’s brasileiras.
Para quem convivia com o músico,
ele era a contradição em pessoa. O seu visual nerd escondia um artista rebelde
e cheio de atitudes que não hesitou em colocar suas músicas na programação da
Rede Globo, vista pela sua geração como a vilã que apoiou a Ditadura Militar e
era uma emissora elitista. Para mostrar essas contradições, que fez dele um
artista ousado e hoje cultuado pelos amantes daquela geração (mas esquecido por
muitos) foi lançado em 2013 o documentário JúlioBarroso: marginal conservador, dirigido por Ricardo Alexandre. Como bem disse
um dos herdeiros das contradições de Júlio Barroso, “É tão estranho/ os bons
morrem jovens”.
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