Meu irmão é adotado, mas não posso
e não quero dizer que meu irmão é adotado.
Com apenas dois romances
publicados (o anterior, Procura do
romance, é de 2011), o escritor e crítico literário Julián Fuks é um dos
mais promissores autores da atual literatura brasileira. A Resistência, seu segundo romance, publicado em 2015, caminha no
limite entre a realidade e a ficção; a história e a memória; o biográfico e o
ficcional; entre Julián, o autor, e Sebastián, protagonista do livro. Filho de
pais argentinos que se exilaram no Brasil fugindo da ditadura portenha, Fuks
usa a obra para explicitar a sua obsessão com origens.
“Que força tem o silêncio quando se estende muito além do incômodo
imediato, muito além da mágoa”.
Narrado em primeira pessoa por Sebastián, o
mais novo de três irmãos de um casal de psiquiatras argentinos que se
conheceram na universidade, o livro narra a história da família que veio fugida
para o Brasil. Dos três filhos, o mais velho é adotado e avesso à vida
familiar; o segundo, nascido no Brasil, permitiu a cidadania aos exiliados; e o
mais novo, narrador dos dilemas de uma família que vive num país que não é o
seu e tem um filho que não é seu (pelo menos não biologicamente). Mas esse não
é o grande dilema da narração, mas se o fato de ser adotado deve ser
explicitado ou não. Aliás, a frase que inicia o livro expressa esse dilema.
“Um filho nunca será o mais indicado para estimar a relação entre os
pais, para compreender o que atraiu um ao outro, para destrinchar seus
sentimentos”.
Fuks adota uma estratégia
narrativa muito parecida com a utilizada por Chico Buarque de Holanda em Irmão alemão, romance de 2014. Nele,
Ciccio é e não é Chico. Aqui Sabastán é e não é Julián. Um dos grandes méritos
do autor é narrar com uma precisão assustadora os sentimentos familiares,
sensações nem sempre fáceis de expressar em palavras por envolver múltiplos
sentimentos. Tributo à Emi, irmão adotivo de Fuks, o livro usa como cenário a
ditadura argentina e a vida de todos aqueles que foram atingidos por ela para
reconstruir a sua história familiar e dá um
significado aos desdobramentos emocionais da adoção.
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