“Como uma pessoa consegue ficar casada por 40 anos? Para mim, isso
parece um milagre ainda maior do que a divisão do Mar Vermelho, embora meu pai,
na sua ingenuidade, considere essa façanha muito mais impressionante”.
Publicado em 1980, quando Allen
já era um artista conhecido e aclamado, Que
loucura! traz dezesseis textos (e
não dezessete, como é anunciado na contracapa) em que autor mistura humor (na
maioria sem graça), filosofia e psicanálise. Logo no primeiro texto, Retribuição, Allen acerta ao contar a
história do sujeito insípido e sem atrativos que se apaixona e tem a paixão
correspondida por uma mulher belíssima. O problema está quando o sujeito
conhece a sogra. Um conto que poderia ser perfeitamente transformado em filme, com
um personagem cheio de neuroses típico de Woody Allen. O segundo texto, Meu tipo inesquecível, é um conto
repleto de piadas sem graça onde o personagem/narrador relembra a morte do seu
amigo Sandor Needleman.
“Esse é o problema da filosofia: já não funciona tão bem depois da
aula, ou seja, na vida real”.
Woody Allen fracassa ao tentar
ser engraçado em O condenado e A ameaça de um OVNI, mas nesse último
consegue pelo menos fazer uns questionamentos ligeiramente inteligentes, como
”se os discos voadores vêm do espaço exterior, por que seus pilotos não entram
em contato conosco, em vez de insistirem nesses ridículos voos rasantes sobre
áreas desertas?”. O ponto alto do livro é, indiscutivelmente, O caso Gugelmass, sobre um professor de
literatura da Universidade de Nova York que se sente sufocado pela mesmice da
vida e por um casamento sem nenhum atrativo. Certo dia é procurado por um
mágico que promete coloca-lo dentro de qualquer livro. De uma hora para outra,
Gugelmass se vê tendo um caso com Madame Bovary, personagem de Flaubert.
Enquanto isso, estudantes de literatura mundo afora se perguntam: "Quem é esse judeu careca que entrou na história por volta da
página 100 e já foi beijando Madame Bovary?".
“A loucura é relativa. Quem pode definir o que é
verdadeiramente são ou insano?”
Alguns veem
similaridade entre essa história e o enredo de Meia noite em Paris, do próprio Allen, lançado em 2011. Os dois
textos seguintes, Como quase matei o
presidente dos Estados Unidos e Na
pele se Sócrates, podemos classificar como “bonzinhos”, o leitor não
perderá nada se não lê-los. Os textos que vem a seguir são dispensáveis, com um
humor sem graça e histórias que saem do nada e chegam a lugar algum. É o caso
do texto que dá título ao livro, Que
loucura!, tinha tudo para ser um bom conto, mas faz jus ao título, é uma
loucura sem sentido! O mais idiota dos
homens é um exemplo de como Allen se sai bem quando tenta contar uma
história sem fazer graça, mesmo quando essa história não é tão boa. O seu
talento para a telona, em enredos com grande capacidade de articulação de
ideias, não aparece quando Allen se aventura na literatura.
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