“É que, por detrás de cada
desejo do homem, existia sempre o poder que vinha reforçá-lo, um poder que
sabia magoar e cujos meios de expressão eram pancadas, pedradas e vergastadas
dolorosas”.
Depois de O apelo da selva (1903) e O
lobo do mar (1904), Jack London publica seu terceiro sucesso consecutivo em
1906, Caninos Brancos que segue a
mesma linha do primeiro romance, ou seja, a história de um cão (que vem a ser o
bisneto de Buck, personagem do O apelo da
selva), só que seguindo um caminho inverso. Enquanto que no primeiro
romance Buck é um cão doméstico que se transforma num lobo selvagem, em Caninos Brancos o lobo selvagem será
transformado num cachorro domestico. O que há em comum é que, em ambas as
histórias, o homem será o responsável pelas transformações.
“A sua submissão ao homem
parecia superar tudo o mais: o amor à liberdade, à espécie, à família”.
Mais uma vez o cenário é a
corrida do ouro no Alasca no século XIX. Kishe, uma cachorra metade loba,
lidera uma alcateia num período de comida escassa, quando até o homem pode se
transformar em presa. Após se retirar para ter a primeira ninhada, da qual fará
parte o nosso protagonista, Kishe é encontrada por índios que levam o filhote
para a tribo. Começa aí a saga daquele que os índios batizaram de Caninos
Brancos, um lobinho que sentirá pelos homens um misto de admiração e medo,
humilhação e raiva. Submetido ao poder do seu “deus” homem, Castor Cinzento,
Caninos Brancos passou a temer a mão do homem.
“O objetivo da vida era a carne. A própria vida era carne. A vida vivia
da vida. Havia os que comiam e os que eram comidos”.
Nesse ambiente de dor e medo, o
pequeno lobo cresceu e transformou no animal mais temido da tribo. Mas Castor
Cinzento tinha problemas com a bebida e, para pagar dívidas, vendeu o seu
animal para um dono, o perverso Beleza Smith, que o utilizou para lutar em
rinhas. Caninos Brancos ficava cada vez mais feroz e aprendia que, para
sobreviver, teria que se adaptar sempre. Sua sorte só começa a mudar depois de
estar às portas da morte. Um livro que fala da capacidade de homens e animais
de se adaptarem aos mais variados ambientes, que mostra que todos os animais,
inclusive os humanos, respondemos à violência com violência e ao amor com amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário