“Talvez até tivesse sido bom abreviar a passagem dele por esse vale de
lágrimas. Convenceu-se de que foi um ato humanitário ceifar o sofrimento do
pobre coitado. Dez segundos, tudo resolvido. Sem aquela longa agonia dos
hospitais, sem a decadência da velhice. Muito mais prático e barato. Deviam lhe
agradecer”.
Ambientado em Porto Alegre, Pistoleiros também mandam flores, publicado
em 2007, é uma bem-humorada novela policial que tem como protagonistas o
pistoleiro Aníbal, um ex-policial que resolveu entrar para o “ramo de
eliminações de problemas por encomenda”; e o jornalista em início de carreira
recém-chegado do interior Régis Rondelli, um sonhador incorrigível. Em torno de
ambos o também jornalista Nico, um bom
vivant que tem a sorte sempre do seu lado quando o assunto é mulher.
“Assim era bom, assim era direito: executar a vítima antes mesmo que
ela pudesse sentir medo ou dor. Isso era clemência. Isso era humanidade. Isso
era civilização. Aníbal era uma boa pessoa”.
A história começa com o
assassinato do professor Vanderlei. Não é segredo para ninguém que o autor foi
Aníbal, que além de pistoleiro, tem também uma veia “filosófica”. O mistério
está em quem mandou matar e o motivo. É aí que entra em cena o projeto de
jornalista Régis Rondelli. Sonhando com um carrão na garagem, belas mulheres,
uma conta bancária recheada e viagens a paraísos terrestres, Rondelli ver na
investigação do crime e seu desvendamento a ponte para realizar todos os seus
sonhos.
“Quando a mulher se torna esposa, ela se torna parente. A relação sai
do âmbito do prazer e vira obrigação. (...) O sexo deixa de ser sexo. Toda
aquela intimidade causada pela monogamia se transforma em amizade, em afeto, em
carinho ou, pior, em amor”.
Quem ler Pistoleiros também mandam flores se sente confidente dos
personagens. O Aníbal tentando convencer a todos da “nobreza” da sua profissão;
Rondelli partilhando com todos os seus sonhos de grandeza; e Nico distribuindo
charme e filosofia anti-matrimônio. E essa sensação é causada pela escrita de
David Coimbra: envolvente e agradável, parecendo até que o autor está batendo
um papo com o leitor.
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