“Perfumava-se com abundância, o monstro. Está certo, a população
inteira de Porto Alegre, com exceção dos escravos, tinha o hábito de se
perfumar, numa artimanha para sufocar a pestilência natural da cidade e mau
cheiro dos próprios habitantes, poucos afeitos a tomar banhos”.
Tenho percebido pelas minhas
últimas leituras que o Rio Grande do Sul é um celeiro de grandes escritores. E não
estou falando de Érico e Luís Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar ou Josué
Guimarães, escritores já consagrados. Estou falando de Cláudia Tajes, Letícia Wierzchowski, Cíntia
Moscovich, Tabajara Ruas, autores que ainda não caíram nas graças do grande
público, mas que têm um talento grandioso. O mais recente desses talentos dos pampas a
que tive contato através da leitura foi David Coimbra.
A primeira vez em que tive
contato com a obra do Jornalista, radialista, escritor e cronista do jornal Zero Hora foi em 2014, com Mulheres!, um livro de crônicas e
contos, postado nesse blog em abril daquele ano. Confesso que não me empolguei
muito. Esse ano, li Canibais – Paixão e
morte na Rua do Arvoredo, romance de 2004, e fiquei fascinado. Conduzindo a
narrativa com muita habilidade a ponto do leitor ter dificuldades para
interromper a leitura, David Coimbra faz uma reconstituição histórica perfeita
da época.
Ambientado na Porto Alegre do
século XIX, o romance nos conta a história real do açougueiro José Ramos,
estabelecido na Rua do Arvoredo, e da sua bela esposa Catarina Palse, uma loira
estonteante de origem húngara. Aproveitando-se da sua beleza, Catarina atraia
homens para sua casa, seduzia-os, e eram mortos por Ramos. Transformada em
linguiça, a carne das vítimas eram apreciadas por toda a sociedade Porto-alegrense.
Como virou tabu na época, esse assunto é tratado hoje um pouco como história
real e um pouco como lenda urbana. Independente disso é uma obra primorosa.
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