Recebi críticas de colegas pelo
título do post do dia 28 de junho
último. Resolvi refletir, pensar, matutar. Andei pra lá e pra cá, divaguei,
ruminei, ponderei, devaneei, raciocinei e resolvi ceder. Tudo bem, retiro o
“letrado”. O “mendigo” não tem como tirar, afinal é assim que o professor é
tratado, se sente e se comporta no Brasil. Admitamos que existam professores
que leem, escrevem, produzem e são seres pensantes. Mas temos que admitir também
que a categoria é formada, no Brasil, por uma massa de seres incapazes de
pensar de forma minimamente complexa. É uma categoria formada, numa quantidade
nada desprezível, por meros reprodutores do livro didático. Aliás, podemos
afirmar com segurança que a grande maioria tem como única leitura o livro
utilizado durante as aulas.
Estou exagerando? Experimente
perguntar ao professor do seu filho quantos livros ele leu nos últimos seis
meses. Caro colega, experimente perguntar ao seu colega de profissão quantos
livros há na sua biblioteca particular (não vale livro didático), se que é que
ele possua uma. Ou será que o fato de alunos chegarem ao ensino médio mal
sabendo ler e escrever é culpa somente dos indisciplinados aprendizes? Não tem
como um professor ensinar a seu aluno o amor pelos livros se o próprio mestre
desconhece tal sentimento. Não tem como o professor transmitir aos alunos a
magia que há na leitura se o próprio não tem tal prática.
Estou exagerando? Lembro-me de um
fato ocorrido na sala dos professores de uma escola em que trabalhei. A
coordenação pedagógica apresentava aos mestres os novos livros da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) enviados pelo Governo Federal. De repente, todos escutam
um grito de revolta, de autêntica indignação de uma professora, que bradando o
seu maltrapilho livro didático de páginas ressequidas, amarelecidas e
quebradiças como se uma arma fosse, pergunta:
- Vou ter que ler tudo de novo?
Com olhar vidrado e lábios
trêmulos, a nobre professora parecia uma guerreira que, prestes a ir pra frente
de combate, se depara com a substituição de seu velho e eficiente fuzil por uma
arma menos eficiente. Mas não era nada disso. A professora só mostrava sua
indignação diante do fato de que teria que ler todo o livro recém-entregue
quando ela já tinha o seu aguerrido alfarrábio na ponta da língua. E exemplos
como esse pululam no seio dessa categoria que chama para si a responsabilidade
de ser a elite pensante da sociedade na hora de reivindicar benesses, mas se
comporta como analfabetos na hora que são obrigados a pôr seus sofridos e
enferrujados cérebros para funcionar.
Estou exagerando?
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