segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um alicerce de poeira ou: um desabafo! - Parte 2 -


A sociedade que critica a classe política, responsabilizando-a por essa bandalheira é a mesma que não faz nada para mudar o quadro de falência e que se encontra a educação pública no Brasil. É mais fácil aplacar a sua sede de vingança discutindo a diminuição da menoridade penal, discutindo a pena de morte.  Se levássemos a sério a educação não haveria necessidade de tais debates. Essa sociedade não consegue, na sua sagrada célula familiar, incutir em seus pupilos valores morais e senso de cidadania e de responsabilidade, imputando à escola tais responsabilidades que, em hipótese nenhuma, as pertence.
O que eu mais escuto no cotidiano escolar são pais afirmando que “não sei mais o que fazer com esse (a) menino (a)” ou “não tenho tempo de ir na escola”. Se o cidadão acha que não tem condições de impor limites ao seu filho ou que não terá como acompanha-lo vida afora, aborte! O conselho pode parecer chocante e criminoso. E é! Mas igualmente criminoso é deixar o filho a deriva a vida inteira e atribuir a terceiros o “dever” de suportar a sua falta de limites, as suas impertinências e, em última instância, as suas delinquências. Muitas dessas crianças não são frutos de um parto bem sucedido, mas de um aborto não realizado.
Nesse quadro nefasto, os professores não estão isentos de responsabilidades. Indiscutivelmente, há professores competentes e comprometidos com as suas funções, mas estes representam ilhas num mar de mediocridade e falta de compromisso. Adoram ser vistos como “coitadinhos”, pois assim não precisam ser cobrados. Acredito que muitos rezam dia e noite para continuarem sendo mal remunerados, pois assim não serão nunca cobrados. Não se discute que professor, no Brasil, é mal pago, mal formado e trabalha em condições adversas, mas isso não justifica determinadas posturas. Mesmo por que o professor sem compromisso ou incompetente pode ter seu salário multiplicado por dez que vai continuar incompetente e sem compromisso.
No início desse mês, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo divulgou que os professores da rede faltam 21 dias por ano ao trabalho. Isso representa mais de 10% dos 200 dias letivos que toda escola tem que cumprir por lei. De imediato, uma das entidades de classe, o Centro do Professorado Paulista (CPP), saiu em defesa dos faltosos, alegando que a falta de dinheiro para a condução seria a principal causa das faltas. Eu ouso discordar! Essa realidade é nacional, professor falta por qualquer coisa: por falta de dinheiro, por problemas de saúde, por que está chovendo, por que está fazendo sol. O simples fato de ser dia letivo já é uma boa razão para faltar ao trabalho.
O fato inquestionável é que a educação pública pede socorro. Não se sabe pra quem, mas pede. A consequência de toda essa situação calamitosa é que a escola, antes um ambiente que deveria promover o progresso do saber e a consciência cidadã, que era a “segunda casa” de muitos, se transformou num ambiente de conflitos e exclusão. Predomina a permissividade e um sistema avaliativo flexível e condescendente onde o que importa é a aprovação a todo custo.
Estamos construindo uma sociedade sobre um alicerce de poeira, cada vez mais violenta, onde todos querem levar vantagem em tudo, onde “passar a perna” no outro é motivo de orgulho, onde enriquecer de forma ilícita deixa de ser vergonha, onde depredar o patrimônio público é brincadeira de criança, onde a fama vem unicamente por atributos físicos, onde os livros serão escritos com letras mortas, onde a tecnologia presta serviço apenas à pedofilia, à fofoca e às futilidades virtuais. Custa-me dizer que sinto vergonha de ser professor nesse país, de ser visto como mais um “coitadinho”.       

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um alicerce de poeira ou: um desabafo! - Parte 1


A educação brasileira (notadamente a pública) vive num conto de fadas, um jogo de faz de contas: o professor faz de conta que ensina, o aluno faz de conta que aprende, o poder público faz de conta que presta um bom serviço, a sociedade faz de conta que recebe esse serviço. Quando você vê uma celebridade, um político, um pensador (quem quer que seja!) falando que um país só se desenvolve através da educação, que uma sociedade só evolui se tiver uma educação de qualidade ignore. É tudo balela, jogo de cena, verborragia inútil! Na prática, ninguém está ligando para a educação. Ninguém mesmo!
E de quem é a culpa?
De todos! Do poder público, da família, do aluno e até do professor. Ninguém (salvo raras e honrosas exceções) está preocupado com a educação. O poder público enxerga a escola como um depósito de crianças que a lei determina que têm direito à sala de aula; a família vê a escola como o local onde ela deixa seus filhos para serem educados (em todos os sentidos) enquanto pai e mãe trabalham; para o aluno, a escola é aquele espaço onde ele interage socialmente com seus amiguinhos, eventualmente estudam e, necessariamente passam de ano, de preferência sem precisar estudar; o professor está lá apenas para receber seus (míseros) proventos enquanto a chuva não passa.
Vou tentar ser o mais eficiente possível na explicação sobre as responsabilidades de cada um.
O poder público até hoje não conseguiu tornar a carreira de magistério atraente. Os cursos que formam professores atraem, na maioria, aqueles que não conseguem fazer outra coisa. E formam muito mal! Como também não consegue (ou não quer) remunerar esses profissionais. Em 2008, o governo federal criou o Piso Nacional do Magistério. Na época, alguns estados recorreram à justiça, mas o piso foi implantado.
No ano passado, seis estados (RR, MS, GO, PI, SC e RS), recorreram novamente à justiça questionando o cálculo de reajuste do Piso que, segundo a ação, seria inconstitucional, pois a lei estaria impondo regras aos estados e municípios e o tal cálculo estaria muito acima da inflação. Convém informar o salário bruto de cada um desses governadores que se recusam a pagar R$ 1.567,00 aos professores (fonte: revista EXAME):
Anchieta Júnior (PSDB): R$ 26.700,00
André Puccinelli (PMDB): R$ 25.444,09
Marconi Perillo (PSDB): R$ 20.042,00
Tarso Genro (PT) e ex-ministro da educação do governo Lula: R$ 17.347,14
Wilson Martins (PSB): R$ 16.500,00
Raimundo Colombo (PSD): R$ 15.000,00
Seria muito cômodo culparmos os políticos, mas se observarmos o judiciário a situação não muda muito (talvez até piore). No Amazonas, segundo o próprio TJ-AM, foi encontrado magistrado (mais precisamente uma juíza) recebendo R$ 100.605, 51 líquidos por mês. Recentemente, o TJ-RJ aprovou auxílio-moradia para os magistrados no valor de R$ 5.000,00. Imoral? Tem mais: retroativo a dez anos!!! Nesse mesmo estado o governador Sérgio Cabral recebe um salário bruto de R$ 20.600,00.
Em Rondônia, segundo o jornalista Alan Alex, o TJ-RO paga R$ 4.500,00 de auxílio-moradia aos desembargadores. Nesse mesmo estado, onde o governador Confúcio Moura (PMDB) recebe um salário bruto de R$ 23.052,31 (fonte: revista EXAME) e o prefeito da capital, o senhor Mauro Nazif (PSB), R$ 21.000,00 (Fonte: G1), os professores “mendigam” um auxílio-alimentação de R$ 300,00, que lhe é negado em nome da Lei de Responsabilidade Fiscal.  Para essa gente, o salário de professor é troco! 
DÁ PRA LEVAR UM PAÍS DESTE À SÉRIO?

Continua na segunda-feira... 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Homens interessantes e outras histórias – Nikolai Leskov


Juntamente com A fraude e outras histórias (sobre o qual falei na semana passada), Homens interessantes e outras histórias é a primeira reunião dos contos do russo Nikolai Leskov lançada no Brasil. Esse volume apresenta sete contos do autor, onde o autor aborda temas recorrentes, como o Natal, a figura do justo e temas ligados à sua época.
No primeiro conto, A sentinela, alguns fatos são confirmados por memorialistas da época. A história gira em torno de um ato heroico de um soldado de vida simples que abandona seu posto para salvar a vida de uma pessoa que se afoga, mas não leva o mérito. Em O velho gênio, uma senhora tenta reaver um dinheiro emprestado a um conhecido embusteiro. A solução encontrada para enquadrar o velhaco, heroica e simples, da um retrato da realidade da Rússia de então.
No conto que dá título ao livro, discute-se o que é um homem interessante. Seria Matviéitch que, além de guardar a memória da falecida esposa, ainda mantém uma postura honesta diante de situações limites? Ou seria Sacha, que comete o suicídio para proteger a honra da amada? Em O expele-diabo, vê-se uma pândega com pretensões místicas onde um rico comerciante busca uma igreja para “limpar o espirito” depois de cometer todo tipo de abuso durante a noite. Em O artista dos topetes, um senhor cruel monta o teatro usando seus servos como atores. O conto, que mostra a tragédia do maquiador e da jovem artista, dá uma ideia das atrocidades e da impunidade das classes dominantes russas.
Em A fera, Leskov mostra os costumes bestiais da aristocracia russa, que usava a crueldade com os animais para se divertir, e a vida dura dos servos. Em O papão, Leskov nos dá uma mostra do folclore russo. Essa coletânea de contos é mais uma mostra da genialidade simples de Nikolai Leskov.        

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cinema nacional: O demoninho de olhos pretos


São quatro histórias, todas baseadas no livro Contos fluminenses, de Machado de Assis. Dirigido por Haroldo Marinho Barbosa, O demoninho de olhos pretos (2007), teve orçamento limitado. Talvez isso explique alguns deslizes da produção, que para driblar os parcos recursos, economizaram até nos locais das locações. Algumas delas foram usadas em mais de uma história e até mesmo o papel de parede de uma determinada sala aparece mais de uma vez em diferentes histórias. O ponto alto do filme é o comediante Nelson Freitas, que interpreta vários personagens, usando como artifícios para diferenciá-los as roupas, o gestual ou o formato e o comprimento da barba.
A primeira história se passa em 1902, na Gávea, quando o avô presenteia a neta com o livro de Machado de Assis e a estimula a ler o conto Luís Soares, com o intuito de ensinar a criança bons valores. O conto é a história de um bon vivant preguiçoso que ser ver falido e passa a usar de todos os artifícios para recuperar a fortuna. A segunda história, que se passa em 1945, Rui espera sua noiva em seu apartamento. Inquieto com a demora da noiva começa a ler o conto Dívida extinta, sobre dois primos que disputam o amor de uma mulher, que os despreza. No entanto, são obrigados a conviver quando o avô deixa como herança a loja de tecidos da família.
A terceira história se passa em 1977, quando um hippie pensa em suicídio após ser chamado de ignorante pela namorada. Antes de concretizar seu intento, resolve ler o conto To be or not to be, que conta a história de André Soares que, falido, pensa em acabar com a própria vida. O jovem muda de ideia após ver os belos pés de uma moça. A ultima história se passa em 2006, em Angra dos Reis, quando dois amigos levam duas moças para a casa de praia de um deles. O menos afortunado dos dois, não dá a devida atenção à moça que lhe é destinada devido às péssimas notícias que vem da bolsa de valores. A moça abandonada resolve ler um livro pego aleatoriamente na estante e se detém no conto Aires & Vergueiro, que conta a história de dois sócios que resolvem dá um golpe na praça. Uma boa oportunidade de conhecer a obra de Machado de Assis...   

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A fraude e outras histórias – Nikolai Leskov


Nikolai Leskov (1831-1895) foi um escritor de fama tardia, mas, a exemplo de dois dos seus fãs, Anton Tchekov e Máximo Gorki (este último disse que Leskov “é o mais russo dos escritores russos”) é considerado um dos maiores contistas russos de todos os tempos. Leskov nos mostra que literatura e política não devem andar muito próximas. Na primeira metade do século XX, foi censurado por Stálin, enquanto era vivo desagradou ateus revolucionários e ortodoxos monarquistas por seus pensamentos progressistas. Daí a razão do ostracismo em que sua obra esteve submersa até hoje. Quando se fala em literatura russa, Leskov é relegado ao esquecimento.
Para trazer a tona o talento de Leskov, a Editora 34 lançou uma reunião de contos em dois volumes: o primeiro deles é A fraude e outras histórias (o outro é Homens interessantes e outras histórias, sobre quem falarei na próxima semana). O livro é composto de seis contos, um capítulo dedicado a falar dos contos, escrito pela tradutora da obra, Denise Sales, e um ensaio sobre o escritor escrito por Elena Vássila.
No primeiro conto, Kótin, o provedor, e Platonida, Leskov mistura tragédia e comédia, com o fantasmagórico dando a tônica da história, que desemboca num final inesperado; em Águia branca, o personagem assume várias facetas, misturando o real e o fantástico; em A voz da natureza, a história se passa na zona rural e o mistério é desvendado pelo som de uma trombeta; no conto de título ao livro, A fraude, encontramos algumas mazelas da sociedade russa do século XIX, como o antissemitismo e a xenofobia; em Alexandrita, vem a tona as crendices e superstições do povo russo; no último conto, A propósito de A Sonata a Kreutzer, Leskov toca na questão feminina na Rússia do século XIX. Um livro imperdível...  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Cinema nacional: Cafundó


João de Camargo (1858-1942) nasceu escravo em Sorocaba, interior de São Paulo. Libertado pela Lei Áurea (1888), foi soldado, cozinheiro, trabalhador de olarias e lavouras. Reza a lenda que, em 1906, teve uma visão que o curou do alcoolismo e o fez iniciar o projeto de criar a sua igreja no mesmo local da visão. Com fama de milagreiro, foi preso diversas vezes por curandeirismo.
A produção de Paulo Betti e Clóvis Bueno, de 2005, tendo como centro narrativo a figura de João de Camargo (Lázaro Ramos), enfoca o sincretismo religioso, uma vez que o milagreiro teve influências das religiões africanas (através da sua mãe), do catolicismo (através da sua sinhazinha Ana Teresa Camargo e do padre João Soares do Amaral) e ainda buscou beber na fonte do espiritismo. João tem como grande parceiro o também ex-escravo Cirino (Leandro Firmino), que o acompanha na fundação da sua igreja.
Após ser libertado por ter participado da guerra, João passa a viver de trapaças, ao lado dos também ex-escravos Cirino, Levinda (Valéria Monã) e Teodoro (Ronald Pinheiros). Posteriormente, passam a trabalhar sempre em trabalhos pesados. João conhece Rosário (Leona Cavalli), uma moça misteriosa que vem a ser sua esposa. Após cinco anos de casamento, se separam após João flagrar Rosário com outro. Começa a reviravolta na vida do protagonista. Bêbado, tem uma visão que o tira do vício e o impele a fundar sua igreja.
Com o tempo, João passar a ser visto pelos negros como santo, pela igreja e pelos brancos como charlatão. Isso o leva algumas vezes à prisão. A mensagem do filme é que quando a religião nos faz bem e nos restaura, como no caso de João, devemos continuar no caminho que nos propomos a seguir ou que as circunstâncias nos obriga, como é o caso do nosso protagonista. Um bom filme.    
  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Caricatura: Kim-Jon-Gun

O "Grande Líder" da Coreia do Norte arranjou uma forma de espalhar o socialismo pelo mundo. A esquerda brasileira está eufórica com essa perspectiva.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quando fui morto em Cuba – Roberto Drummond


O escritor mineiro Roberto Drummond nasceu em Ferros em 1933 e tinha uma verdadeira obsessão pela morte. Curiosamente, não procurou um médico quando sofreu o infarto fatal em Belo Horizonte, durante um jogo entre Brasil e Inglaterra na Copa do Mundo 2002. No livro Quando fui morto em Cuba, lançado em 1982 e relançado em 2011, ele consegue reuni, em 16 contos, a sua obsessão pela morte às suas duas paixões: o futebol e o cinema. 
Organizado abertamente sob o espirito do futebol, o livro se divide em duas partes: o primeiro e o segundo tempos e entre eles há um intervalo, contendo um conto em que um narrador esportivo “narra” os últimos instantes de vida do lendário craque do Botafogo carioca Heleno de Freitas.
O Primeiro tempo do livro, que contém oito contos, começa com a versão erótica do conto que dá título ao livro, cujo personagem é um travesti apelidado de Marta Rocha, ícone da beleza nos anos 50, que foi jogador de futebol (o travesti, não a Marta Rocha verdadeira). Uma referência a Heleno de Freitas, que era apelidado pelos torcedores rivais de “Gilda”. Nessa parte do livro, destaque para o conto Comendo camarão grelhado, onde o autor mostra a indiferença da classe dominante com a miséria reinante no país.
O Segundo tempo do livro contém também oito contos, com destaque para Por falar na caça às mulheres, onde o escritor deslinda o universo de violência contra a mulher, justificada pelos homens pela infidelidade destas, mesmo quando esta infidelidade era apenas virtual. Nesse conto, o empresário mata a esposa por esta ter se apaixonado pelo ator Reginaldo Faria, que estrelava uma novela de sucesso na época. Detalhe: ela o conhecia apenas pela TV. o conto que encerra o livro é a versão política do primeiro conto, quando um ex-militante político na época da repressão recebe um convite para visitar o país de Fidel e reúne os amigos da época da militância para lembrar os mortos e descobrem o quanto mudaram desde a última vez em que se viram.
Um livro para ser lido...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cinema nacional: Até que a sorte nos separe


Se você não tem mais nada de interessante para fazer, pode assistir ao longa Até que a sorte nos separe, dirigido por Roberto Santucci e roteirizado por Paulo Cursino e Angélica Lopes. Se tiver algo mais interessante para fazer, faça-o. Digo isso por que a comédia, que estreou em outubro passado e é sucesso de público, carrega consigo todos os “vícios” daqueles programas de humor globais. Não apenas os “vícios”, mas os atores também. Quais vícios? Piadas sem graça, elenco caricato e roteiro e fotografia com linguagem televisiva.
É certo que o espectador irá dá boas risadas com as “presepadas” de Leandro Hassum, que interpreta o pai de família Tino, suas caras e bocas são impagáveis. Mas o desempenho do restante do elenco, notadamente o de Danielle Winits, que interpreta Jane, a esposa de Tino, exagera pelo caricato. Nos créditos do filme, aparece que o roteiro baseia-se no best-seller Casais inteligentes enriquecem juntos, de Gustavo Cerbasi. Para ser sincero, não consigo imaginar a relação entre o filme e o livro.
Tino é um pai de família que ver sua vida mudar ao ganhar R$ 100 milhões na loteria. A partir daí passa a levar uma vida de ostentação até conseguir gastar todo o dinheiro em dez anos. Vendo-se em dificuldades, aceita a ajuda do vizinho Amauri (Kiko Mascarenhas) um consultor de finanças burocrático e sem senso de humor, que vive uma crise no próprio casamento com Laura (Rita Elmôr). Como Tino tem que esconder da esposa as dificuldades financeiras por ela estar grávida e não poder passar por fortes emoções, as confusões se sucedem. Vão lá, assistam...   

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Entrevista: Richard Dawkins


Nascido em Nairóbi, no Quênia, mas de cidadania britânica, o biólogo Richard Dawkins, de 72 anos, escreveu seu primeiro livro em 1976, O gene egoísta, popularizando a visão da evolução centrada nos genes. Tornou-se best-seller em 2006 ao publicar Deus, um delírio, onde afirma que a fé religiosa é uma ilusão. Intelectual respeitado nos meios acadêmicos e ateu famoso, tem provocado a ira de religiosos por criticar impiedosamente o criacionismo e fazer apologia ao ateísmo. Abaixo entrevista de Dawkins concedida à Folha de São Paulo no mês passado e publicada no dia 01 de abril.
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Folha - Deus existe?
Richard Dawkins - Nós não sabemos se fadas existem. Nós não levamos a sério a existência do deus nórdico Thor, ou de Zeus, ou de Dionísio ou de Shiva. Até que tenhamos sérias evidências de que algum deles existiu ou exista, não perdemos tempo com isso. Por que deveria ser diferente com o Deus cristão ou com o judeu ou com o muçulmano?
Mesmo que alguém concorde com o que o sr. acaba de dizer, há milhares de fiéis pelo mundo. É possível explicar essa enorme propensão à fé?
Há experimentos em psicologia infantil que demonstram que crianças, quando indagadas sobre a existência de uma pedra pontiaguda em um ambiente, preferem a explicação que tenha causa e consequência claras.
Em outras palavras, preferem acreditar que a pedra é pontiaguda para que os animais daquele ambiente possam usá-la para se coçarem.
Não aceitam que a pedra pontiaguda se formou a partir de processos geológicos e da erosão através do vento e da água. Talvez muitos dos fiéis de hoje ainda retenham esta atitude infantil ao pensarem sobre o mundo.
Uma outra hipótese é que a propensão à fé seja simplesmente um resquício do medo de se ficar só em um ambiente hostil. Nossos ancestrais viviam sob constante ameaça de serem atacados e mortos por animais selvagens.
Pode ser que nossa necessidade de criar fantasmas e divindades que vão nos punir esteja conectada com esse traço evolutivo presente em nossos primórdios.
O sr. diz que há uma tendência ao silêncio em relação às doutrinas religiosas dos outros, que as pessoas evitam debater sobre suas próprias crenças, e que esse fato é nocivo à sociedade. Não seria necessário simplesmente respeitar as diferentes crenças das pessoas?
Não devemos respeitar crenças que influenciam a vida de crianças e que vão contra conhecimento dado como consenso na comunidade científica.
Uma coisa é uma pessoa dizer que acredita em Papai Noel e manter esta crença dentro de sua família - ainda que eu considere uma pena para os filhos.
Quando algumas pessoas, contudo, começam a ensinar que a Terra tem apenas cerca de 10 mil anos, aí eu acho um absurdo e quero lutar contra isso.
Um novo papa acaba de ser eleito. Ele é argentino. É possível dizer que isso representa um avanço em termos políticos da fé no mundo em desenvolvimento?
Se pensarmos que haverá uma menor centralização política daqueles que determinam o futuro da Igreja Católica, sim, sem dúvida.
No Brasil, a Igreja Católica tem perdido fiéis para outras tradições protestantes. Alguns atribuem tal fenômeno à dinâmica dos rituais católicos, ainda bastante hierarquizados e tradicionais, se comparados às religiões protestantes.
Não conheço bem o contexto brasileiro, mas é possível imaginar que a não participação ativa dos fiéis nas missas católicas é um dos fatores que provavelmente têm contribuído para tal queda.
Explicando melhor, os rituais protestantes nos EUA são como shows, os participantes dançam, cantam, tocam instrumentos. Suponho que no Brasil as missas ainda tenham um formato bastante tradicional e que provavelmente tenham pouco apelo social para conquistar seguidores jovens.
Em sua obra, o sr. dá ênfase à possibilidade de qualquer um rejeitar crenças religiosas ou vivências espirituais e ainda assim ter uma vida plena e ética. Sem as religiões, onde é que encontraríamos códigos morais?
Suspeito que não encontramos regras morais nos ensinamentos religiosos. Se fosse esse o caso, nossa conduta moral não se alteraria praticamente a cada década. Seria estanque.
Pense que até bem recentemente nós considerávamos a escravidão como algo normal e que também as mulheres não deveriam participar dos processos democráticos.
E quanto ao que não conseguimos explicar? Não vem daí uma das "necessidades" da religião e da crença no "sobrenatural"?
Essa talvez seja uma das explicações que mais me aborrecem para se crer em uma deidade.
Eu gostaria que as pessoas não fossem preguiçosas, covardes e derrotistas o suficiente para dizer: "Eu não consigo explicar, portanto isso deve ser algo sobrenatural". A resposta mais correta e corajosa seria a seguinte: "Eu não sei ainda, mas estou trabalhando para saber".
Acabam de ser divulgados os primeiros resultados das pesquisas sobre índices de felicidade idealizados pelo governo do primeiro-ministro britânico, David Cameron. O sr. já investigou a relação entre religiosidade e felicidade?
Não vi os resultados ainda. Quanto à relação entre religiosidade e felicidade, ainda que eu não tenha estudado o assunto, é possível prever que tal correlação é mais um mito do que um fato.
Os países que apresentam melhores índices de desenvolvimento humano e, em tese, uma melhor condição para a existência da felicidade, são países com o maior número de ateus do mundo.
Seus cidadãos encontram bem-estar, alegria e consolo nas possibilidades sociais, culturais e intelectuais concretamente disponíveis em seus países, não em entes divinos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Os escritos secretos – Sebastian Barry


Os escritos secretos é o sexto romance, de um total de sete, do irlandês Sebastian Barry, mas o primeiro lançado no Brasil. Com esse romance, escrito em 2008, Barry foi agraciado com o Costa Book Prize, um dos mais prestigiados prêmios literários do Reino Unido.  Nascido em Dublin em 1955, Barry começou sua carreira em 1988 escrevendo poesia, logo depois se dedicou ao teatro, no entanto a sua escrita de ficção terminou por sobrepor-se aos seus trabalhos anteriores, sendo considerado um dos melhores escritores irlandeses da atualidade.
A personagem central do romance é Roseanne McNulty, uma senhora de quase cem anos que a 60 anos vive numa instituição psiquiátrica que está prestes a ser fechado e demolido. O médico da instituição, doutor Greene, tem que decidir quais pacientes serão transferidos para outro hospital e quais retornarão ao convívio social. Para isso, se faz necessário avaliar o histórico de todos os pacientes. O problema é que a documentação da paciente Roseanne foram destruídos pelo tempo, exigindo do médico uma reconstituição do seu passado através de testemunhos.
Disposta a não deixar sua história ser esquecida, Roseanne começa a escrever um diário com a sua versão dos fatos. Ao mesmo tempo, o psiquiatra começa fazer o seu relato dos fatos a partir dos testemunhos e dos poucos documentos que restaram sobre a velha senhora. Toda a história (e suas contradições) é contada através de duas narrativas paralelas. O livro tem um começo sonolento, tendo o autor demonstrado pouca habilidade na condução do romance. No entanto, a partir da segunda terça parte do livro, Barry consegue prender a atenção do leitor, despertando a curiosidade sobre a incógnita que é o passado de Roseanne. Um bom livro...     

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Cinema nacional: Augustas


Baseado no livro A estratégia de Lilith, do jornalista Alex Antunes, o filme Augustas, dirigido por Francisco César Filho, documentarista em sua primeira incursão à ficção, foi gravado entre março e abril de 2008, majoritariamente na Rua Augusta, e estreou em julho do ano passado no Festival de Cinema Latino-Americano. A introdução do filme é feita com um curta de 1968, Esta rua tão augusta, do cineasta Carlos Reichenbach, sobre uma das vias mais famosas e mais boemias de São Paulo.
O filme narra a vida de um jornalista, Alex (Mário Bartolotto), morador da Rua Augusta. Demitido do jornal em que trabalhava e tendo levado um fora da chefe e amante, Alex se embrenha no submundo da Rua Augusta em busca de respostas para as suas angústias: cortiços, bares de baixíssimo nível, prostituição e rituais neoxamânicos a base de chás alucinógenos. Na realidade, Alex comporta-se como um cínico em busca da satisfação dos seus prazeres, o que faz com que viva uma existência irresponsável (para a maioria das pessoas).
O curioso é que a Rua Augusta retratada no filme é atemporal: em meio a carros modernos e celulares, circulam orelhões vermelhos e fitas VHS. Isso pode ser explicado pelo fato de o livro que inspirou o filme ter sido escrito no final dos anos 1990. Um filme sobre a noite paulistana, sobre os dilemas urbanos... Um bom filme.