“O que não é bom, o que é claustrofóbico e embotador, é o
relacionamento normal entre duas pessoas”.
Sempre associamos a Geração Beat
à nomes como William Burroughs, Allen Gisnberg e, principalmente, Jack Kerouac.
São poucas as mulheres que aparecem nas inúmeras narrativas do período e,
quando aparecem, são coadjuvantes, assumindo o papel de mães, companheiras ou
amantes. Até mesmo numa das mais famosas
biografias de Jack kerouac, a do escritor britânico Barry Miles, já resenhada
aqui, o papel feminino no movimento é pífio. Ao ler Memórias de uma beatnik, da escritora Diane di Prima, percebe-se
que elas estavam presentes sim e não apenas em papéis secundários.
“O dinheiro que eu recebia por duas horas de trabalho como modelo era o
suficiente para o jantar e o café da manhã seguinte, e para lavar e secar mais
uma troca de roupa. E, como não tinha outras necessidades, eu me considerava
bem rica”.
Escrito sob encomenda do editor
Maurice Girondias no final dos anos 60, o livro só foi publicado no Brasil em 2013 e
narra a convivência de uma adolescente (di Prima nasceu em 1934) com a boemia nova-iorquina
nos anos 40 e 50. O Movimento Beat se notabilizou por questionar o que os
jovens da época chamavam de “valores burgueses” e inspiraria o movimento
hippie. Entre os “valores burgueses” questionados está a monogamia: “Viva com um único homem e você passa a ter
uma reclamação contra ele. Viva com cinco, e você tem a mesma reclamação, mas
ela é difusa, ambígua, indefinida”. Em
um caleidoscópio de sexo e drogas, Diane mostra como jovens transformava uma
vida desregrada em arte.
“Eu ficava com todas as fibras do corpo estremecendo e gritava na manhã
calma, enquanto gozava de novo em um espasmo sem fim de liberação que me
deixava oca, côncava e vazia, uma luz branca como um relâmpago explodindo em
meu cérebro”.
Mas onde fica nessa narrativa a santíssima
trindade do Movimento Beat? Kerouac, Burroughs e Ginsberg? Eles só aparecem nas
últimas quinze páginas do livro, quando a autora narra a ocasião em que participou
de uma orgia com os três e mais alguns outros personagens. O livro peca por não
se aprofundar nas obras e nos autores Beats, ou até mesmo em mostrar a convivência
literária da autora com outros nomes do movimento. O livro nada mais é do que
uma sucessão de cenas de sexo e consumo desenfreado de drogas, o que era uma realidade
na época, mas não a única realidade.
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