“Na minha opinião, o cartunista não pode trabalhar a serviço do Estado.
Devemos ser eternas ovelhas negras”. (Henfil)
Publicado originalmente em 1996, O rebelde do traço: a vida de Henfil, do
jornalista Dênis de Moraes, recebeu uma edição revista e ampliada no ano
passado, vinte anos depois da publicação original. É um livro de fazer rir e
chorar. Autor de personagens engraçadíssimos, como Graúna Fradinho, Henrique de
Souza Filho, o Henfil, maior cartunista brasileiro, era ele próprio um
personagem. Os méritos do livro não se resumem a contar a vida de um dos
maiores artistas da sua geração, mas contar uma fase da história do Brasil da
qual Henfil participou ativamente: a Ditadura Militar e redemocratização do
Brasil, a partir de 1985.
Nascido em Ribeirão das Neves
(MG), em 1944, foi um dos três filhos do casal Henrique e Maria da Conceição a
nascer com hemofilia, doença pouco conhecida no País na época, o que obrigou a
família a se mudar para Belo Horizonte. Foi exatamente o medo de se ferir
durante as travessuras de infância (a hemofilia dificulta a coagulação do
sengue) que levou o pequeno Henrique a se dedicar ao desenho. Seu trabalho como
desenhista começa com os cartazes da AP (Ação Popular), organização de esquerda
da qual fazia parte seu irmão Betinho, também hemofílico.
Dos cartazes para os jornais e
revistas. Foi no seu primeiro emprego, na revista Alterosa, que Henfil recebeu
o apelido que o acompanharia pelo resto da vida. Que o batizou foi ninguém
menos que Roberto Drummond, editor da revista e responsável pela sua
contratação. Mas, ao mesmo tempo em que narra os casos e conflitos, os afetos e
desafetos de Henfil, o autor faz um panorama histórico dos anos 70 e 80,
mostrando as organizações de esquerda que combatiam o governo militar e como a
ditadura agia para reprimir os movimentos clandestinos que se infiltravam em
vários setores da sociedade, entre eles o jornalismo. Henfil faleceu em janeiro
de 1988, vítima da AIDS, e sua morte marcou, em um certo sentido, a morte do
cartum político.
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