Em fevereiro de 1922, Achille
Ratti é eleito papa pelos seus colegas cardeais, na décima quinta votação, e
adota o nome de Pio XI. No mesmo ano em outubro, Benito Mussolini foi nomeado
primeiro-ministro pelo rei Vítor Emanuel III. A igreja precisava do poder
político para recuperar seus domínios e outros benefícios perdidos no século
anterior durante a Unificação Italiana. Mussolini precisava da Igreja para que
a população Italiana, de maioria católica, o visse como o líder a ser seguido
para a pacificação do país. A história desse acordo é o tema do livro O papa e Mussolini: a conexão secreta entre
Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa, do professor de antropologia e
de estudos italianos da Universidade de Brown (EUA) David Kertzer.
Apesar das diferenças brutais
entre ambos (Pio XI era erudito e devoto; Mussolini, violento e tinha aversão
ao catolicismo), os interesses de ambos prevaleceram. Segundo Kertzer, “o
fascismo se estabeleceu na Itália graças ao apoio do Vaticano”. Em retribuição,
Mussolini restaurou todos os privilégios que a Igreja Católica tinha antes da
Unificação Italiana de 1870, como a obrigatoriedade do ensino de religião nas
escolas, a presença do crucifixo nas repartições públicas, isenções de impostos
e até mesmo a reforma de igrejas. O Tratado de Latrão, assinado em 1929 por Pio
XI e Mussolini, entre outras coisas, restitui as propriedades que a igreja
tinha pedido no século anterior e cria um Estado independente dentro da cidade
de Roma, o Vaticano.
Mas enquanto conta a história
desse acordo, Kertzel traça um perfil de Pio XI, um papa que tinha aversão à
democracia e um verdadeiro pavor de qualquer coisa parecida com comunismo, e desmistifica
alguns fatos da biografia de Mussolini. Um desses mitos é sobre a famosa Marcha
sobre Roma, a manifestação fascista que teria contribuído para a ascensão de
Mussolini ao poder. Sempre se falou em 300 mil fascistas bem armados praticando
atos de violência contra opositores. Kertzel afirma que não passavam de 26 mil
homens mal armados (alguns desarmados). O que aconteceu para que o evento
alcançasse a objetivo foi a falta de vontade do rei Vítor Emanuel em
combatê-los. O soberano, assim como o papa, via em Mussolini não apenas um mal
menor, mas a melhor forma de combater os comunistas.
Esse acordo dura até 1939, quando
Pio XI prepara dois documentos para denunciar a aliança de Mussolini com
Hitler. No entanto, o pontífice morre na véspera da leitura de um dos
documentos. Só foi possível contar uma versão diferente da narrativa padrão do
Vaticano sobre esses acontecimentos depois que a própria Igreja liberou, em
2006, documentos referentes ao papado de Pio XI, como também vieram a público
documentos do Arquivo do Jesuítas, em Roma. A expectativa agora é que o papa
Francisco libere os documentos referentes ao papado de Pio XII (1939-1958),
sucessor de Pio XI, chamado por muitos de “o papa de Hitler” pelo seu silêncio
com relação ao Holocausto.
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