Quase passou em branco, mas
lembrei-me mesmo com alguns dias de atraso, de render uma homenagem a Sérgio
Porto, ou Stanislaw Ponte-Preta, esse doce iconoclasta que teria feito noventa
anos no último dia 11, se estivesse vivo. Nascido no Rio de Janeiro em 1923 era
o mais carioca dos cariocas dos cariocas. Era um viciado em Copacabana! Sérgio
Marcos Rangel Porto era radialista, compositor, escritor e, mais tarde,
televisista (palavras dele), apesar do horror que tinha em trabalhar na
recém-inventada televisão.
Começou a carreira jornalística
no final dos anos 40 em revistas como a Manchete
e jornais como o Diário Carioca e
Última Hora, migrando depois para a
televisão. Ainda nos anos 40 criou o personagem Stanislaw Ponte-Preta junto com
o ilustrador Tomás Santa Rosa (inspirados em Serafim Ponte Grande, personagem
de Oswald de Andrade) e passou a assinar suas crônicas somente com o nome do
personagem. Boêmio, era um apaixonado por MPB e jazz, e como todo apaixonado
era exigente a ponto de criar a MPBB, Música popular Bem Brasileira.
E deu sua contribuição nesse
campo. Fazia coberturas de shows como jornalista, escrevia em jornais e
revistas sobre o assunto e compunha. Compôs Samba
do crioulo doido, para o teatro rebolado. Em 1957, redescobriu Cartola, que
sobrevivia como lavador de carros e vigia, ajudando-o a retornar aos palcos e
publicando artigos sobre ele em jornais de grande circulação.
Iconoclasta que era e com um
humor cáustico, criou, na televisão, no ano de 1954, As mulheres mais bem despidas do ano, para se contrapor ao
jornalista Jacinto de Thormes, que havia criado As mulheres mais bem vestidas do ano. Surgiam assim as Certinhas do Lalau, que durou de 1954 a
1968 e foram escolhidas 142 vedetes, entre elas Norma Bengel e Betty Faria.
Era um mestre nas comparações
enfáticas:
Mais assanhado do que bode velho no cercado das cabritas.
Mais duro do que nádega de estátua.
Mais feia que mudança de pobre.
Em plena era pré-revolução
sexual, traçou em 12 palavras os tais anos dourados nada permissivos, principalmente
em matéria de sexo: Se peito de moça
fosse buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça.
Atrevido, criou em plena Ditadura
Militar o FEBEAPÁ, o Festival de Besteira que Assola o País, onde usava
personagens antológicos como tia Zulmira, Rosamundo e primo Altamirando para
criticar tudo e todos. Afirmava ser difícil saber quando as besteiras começaram
a assolar o país, mas disse ter percebido um alastramento quando uma inspetora
de ensino do interior de São Paulo, portanto uma pessoa de nível intelectual
elevado, denunciara às autoridades o professor como um perigoso agente
comunista, depois que seu filho tirara zero na prova de matemática, mesmo
sabendo tratar-se este de um verdadeiro debilóide.
Recentemente, a Rede Globo
adaptou para a TV um dos seus livros, As
cariocas, de 1967, uma coletânea de crônicas sobre o cotidiano carioca
através de personagens femininas. Fica uma sugestão de uma biografia de Sérgio
Porto muito boa: Dupla exposição:
Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, de Renato Sérgio.
Imagine se Stanislaw Ponte-Preta
ainda fosse vivo! Pois é, não é. Sérgio Porto, um boêmio inveterado, mesmo
sabendo dos seus problemas cardíacos, morreu em decorrência de um infarto em 29
de setembro de 1968, aos 45 anos.
- Tunica, eu tô apagando. – foram
suas últimas palavras.
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