Creio que todos nós já tivemos
aquela sensação de déjà vu (do francês, “já visto”). Para quem não sabe é
aquela sensação de que já esteve naquele lugar, já viu aquela pessoa ou já
viveu aquela situação. Eu vivo isso todas as vezes que escuto duas músicas do
cantor Paulo Sérgio (1944-1980), A última
canção e Quero ver você feliz. É
escuta-las e me lembrar das paisagens áridas do Cariri Paraibano, região onde
meu pai nasceu, mas não me pergunte qual a relação entre uma coisa e outra que
eu não saberia explicar.
Outra imagem recorrente ao ouvir
essas músicas é a sala da casa dos meus pais antes de uma reforma que deu
origem a uma garagem. Sempre me vejo com minha mãe vendo meus irmãos indo para
a escola. Como sou o irmão mais novo, ainda não frequentava a escola. Mas eu
não posso afirmar que isso realmente tenha acontecido. Pelo menos não lembro
que tenha acontecido de fato. Por fim, as músicas me lembram de um programa que
existia na rádio chamado ”Postal sonoro”, em que as pessoas pediam músicas e
dedicavam á alguém que estava partindo para outra cidade ou para alguém que
estava ficando.
Paulo Sérgio de Macedo nasceu no
Espírito Santo e iniciou sua carreira em 1968, lançando um compacto com a
música A última canção (a mesma que
me causa o déjà vu), vendendo 60 mil cópias em apenas três semanas. Tornou-se um grande sucesso e, de imediato,
foi comparado com uma jovem estrela em ascensão três anos mais velho e com mais
tempo de carreira, Roberto Carlos, então um ídolo da juventude. Ambos eram
jovens, bonitos e tinham o mesmo timbre de voz. Não demorou para que os
críticos dissessem que ele não passava de um simples imitador do futuro rei. Isso o
perseguiu por toda a sua curta carreira. Segundo alguns jornalistas que
acompanhavam o mundo das celebridades da época, qualquer tipo de comparação com
Roberto Carlos o deixava extremamente irritado.
Em público sempre deixou bem
claro que era fã de Roberto Carlos e que a semelhança no timbre de voz era mera
coincidência. Os dois cantores galãs chegaram, inclusive, a dividir o mesmo
palco num programa de Silvio Santos. Mas a imprensa da época afirma que o
episódio que o teria levado à morte também tem, indiretamente, relação com a
comparação que se fazia entre ambos. Na tarde do dia 27 de julho, um domingo,
Paulo Sérgio fez uma apresentação no “Programa do Bolinha” e na saída houve um
incidente com uma fã, que o teria agredido verbalmente e fisicamente, inclusive
afirmando que Roberto Carlos era melhor que ele. Alguns afirmam que ele já
chegou à TV Bandeirantes com muita dor de cabeça, estado agravado pela
confusão.
No mesmo dia, à noite, depois de
não conseguir terminar o show que estava fazendo em Itapecerica da Serra, Paulo
Sérgio foi levado ao Hospital São Paulo, onde já chegou em coma. Morreria dois
dias depois, aos 36 anos, vítima de um derrame cerebral. Durante sua curta carreira, que duraria 13
anos, Paulo Sérgio vendeu mais de 10 milhões de cópias.
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