“Todas as noites eu perguntava a meu pai, com muito jeito, se ele iria
sair. Ele saía com frequência, e nós, as três mulheres, respirávamos aliviadas.
Essas noites eram maravilhosamente tranquilas.”
No início de 1978, Christiane
Vera Felscherinow, então com 15 anos, depunha em um tribunal de Berlim como
testemunha em um processo por tráfico de drogas quando os jornalistas Kai
Hermann e Horst Rieck (na época trabalhando na revista Stern) viram naquela
garota franzina, frágil e delicada uma personagem interessante a ser
entrevistada para o trabalho de pesquisa sobre os problemas da adolescência que
estavam realizando. Era para ser uma
entrevista de, no máximo, duas horas. Durou dois meses e deu origem a Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e
prostituída, publicado ainda em 1978 e transformado em best-seller
imediatamente.
“É a grande diferença entre os drogados e os alcoólatras. A maioria dos
drogados é sensível aos sentimentos dos outros, pelo menos quando se trata de
um dos membros da turma”.
Apesar de ter sido escrito a
partir do depoimento de Christiane, o livro ganhou um ar de diário, colocando
os autores em segundo plano (o que é um mérito) e comovendo os leitores por sua
contundente honestidade e crueza. Segundo seus relatos, começou a fumar maconha
e haxixe e consumir medicamentos como Valium e Mandrix aos 12 anos, em 1974. No
seguinte, frequentando a discoteca Sound,
point de viciados em Berlim, conheceu Detlev, seu namorado, e começou a
consumir heroína. Necessitando da droga pelo menos três vezes ao dia,
Christiane é obrigada a se prostituir na Estação Zoo para sustentar o vício.
“A maioria dos jovens passa sozinho para a heroína, quando está maduro
para isso. E eu estava...”.
Na época, o consumo de drogas
pesadas entre jovens transformou-se num problema de saúde pública na Alemanha.
Quase todos os colegas de Christiane morreram de overdose de heroína, entre
elas Babsi, sua melhor amiga que, aos 14 anos, foi a vítima mais jovem da
heroína. Christiane, mesmo não tendo o mesmo destino, foi uma vítima da droga
pelo resto da vida. Após várias internações, em 1978 se diz livre das drogas,
mas em 1983 é presa no apartamento de um traficante. E em várias outras
ocasiões teve recaídas, inclusive perdendo a guarda do seu filho, hoje maior de
idade. Recentemente publicou sua autobiografia Eu, Christiane F. – Minha segunda vida. Traduzido para 15 idiomas, Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e
prostituída foi transformado em filme em 1981.
Nenhum comentário:
Postar um comentário