“A pessoa supersticiosa muitas vezes acredita seriamente no destino”.
O escritor norte-americano Truman
Capote é adepto e um dos grandes nomes do chamado New Journalism, estilo de narrativa surgida nos anos 60 que mistura
a linguagem jornalística e a linguagem literária, uma tentativa de transformar
reportagem em arte, como já comentei aqui em maio ao falar de Emboscada ao Forte Bragg, de Tom Wolfe,
outro adepto desse estilo narrativo. A
sangue frio, publicado em 1966, seu quarto romance, é considerado um marco
da literatura norte-americana do século XX e inaugura esse movimento literário.
“Há uma considerável hipocrisia nas convenções”.
No dia 15 de novembro de 1959, na pequena
Holcomb, um vilarejo de apenas 200 habitantes no extremo oeste do estado
americano do Arkansas, a família Clutter, conhecida e respeitada na cidade, é
assassinada barbaramente. Herb, o pai, foi torturado e teve o pescoço cortado
ante de levar um tiro na cabeça; Bonnie, mãe, e os filhos, Nancy e Kenyon,
receberam um tiro na cabeça cada um. Em paralelo, conhecemos Perry e Dick, dois
ex-presidiários em liberdade condicional que vivem aplicando golpes com cheques
sem fundo. Dick, mentor do crime, é um sujeito rude e egocêntrico; Perry,
baixinho de pernas atrofiadas, teve uma infância difícil e é carente de afeto.
“Talvez não sejamos humanos. Mas sou humano bastante para sentir pena
de mim mesmo”.
A partir
de uma exaustiva pesquisa que incluiu visitas ao local do crime, entrevista com
os assassinos e seus familiares e amigos, conversas com moradores da pequena
cidade e familiares das vítimas, análise de documentos oficiais sobre o crime,
Capote construiu um narrativa envolvente que prende a atenção do leitor
capítulo a capítulo. O que poderia ser uma mera apuração de mais um assassinato
nos EUA dos anos 50, se transforma na mão de Capote num texto extraordinário e
agudo.
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