quarta-feira, 18 de maio de 2016

Vá, coloque um vigia – Harper Lee



“Nos anos em que (Harry) esteve longe, primeiro na guerra e depois na faculdade, ela (Scout) tinha deixado de ser a menina briguenta e irascível que vivia de macacão para se tornar uma réplica razoável de ser humano”.
Após publicar O sol é para todos, em 1960, Harper Lee se retirou da vida pública. Nos últimos anos vivia numa casa de repouso com problemas auditivos e visuais. Em 2014, os manuscritos de Vá, procure um vigia foram encontrados nos arquivos da escritora e publicados no ano seguinte. Em 89 anos de vida, a escritora, falecida em fevereiro último, escreveu apenas esses dois romances. Curiosamente, o mais recente romance foi escrito antes de O sol é para todos, apesar da história se passar vinte depois do primeiro livro.
“...o verniz de civilização é tão fino que um bando de negros ianques arrogantes é capaz de destruir cem anos de progresso em cinco...”.
Vivendo em Nova York, Jean Louise Finch, mais conhecida como Scout, sempre volta à Maycomb nas férias para rever o pai, Atticus Finch, o advogado branco que defendeu um negro acusado por um homicídio que não cometeu em O sol é para todos. Com seu comportamento independente e irreverente, Scout causa escândalo no pequeno lugarejo, menos para Harry, seu amigo de infância que sonha em desposa-la. Assunto esse tratado com cautela pela personagem, que ver com reservas a possibilidade de voltar a viver no interior, levando uma vida pacata e sem graça, como suas amigas de infância.
“E por falar em Deus, por que não me explicou que Ele criou as raças e pôs os negros na África para os missionários poderem ir até lá e dizer a eles que Jesus o amava, mas preferia que ficassem lá?”
À exemplo de O sol é para todos, as tensões raciais no sul dos Estados Unidos é o centro da trama.  E os problemas de Scout começam quando ela descobre que Atticus e Harry participam de reuniões em entidades que combatem a igualdade racial. Seria Atticus, o advogado de retidão moral inquestionável do primeiro livro, um racista? Essa questão fica em aberto. O que se vê é uma Harper Lee mais realista e combativa do que a Harper Lee idealista do primeiro romance. 

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