“Então vimos um jovem garoto com sua mulher, fazendo sexo debaixo duma
árvore, então nós paramos e sacaneamos eles, então atacamos os dois com um par
de golpes sem muita empolgação, fazendo eles chorarem, e fomos em frente”.
Publicado em 1962, quando o
escritor britânico Anthony Burgess passava por uma fase difícil na vida, tendo
sido diagnosticado erroneamente com câncer, Laranja
mecânica é o seu 18º livro, porém o primeiro a fazer sucesso. Se eu tivesse
que defini-lo em poucas palavras, diria que é um soco no estômago. Inspirado em
um fato real acontecido em 1944, quando quatro soldados americanos estupram a
primeira mulher de Burgess, a história se passa numa sociedade futurista onde a
violência toma proporções gigantescas, provocando a reação, também violenta, do
governo.
“Para matar o tempo de três minutos da viagem, nós brincamos com o que
eles chamavam de estofamento, fazendo uma rasgação legal das tripas das
cadeiras...”.
A história é narrada por Alex um
delinquente de 14 anos que lidera uma gang cujo passa tempo é praticar
violência de todos os tipos, como roubo, espancamentos e estupros. A primeira
parte do livro nos mostra Alex e sua turma (Tosko, Pete e Georgie) se
“divertindo” após aprontar “naquele grande trono do aprendizado inútil”, como
eles chamavam a escola. Após uma
tentativa de assalto mal sucedida, uma velhinha morre e Alex é preso.
“... e tirei o grande livro ou Bíblia achando que me daria algum tipo
de conforto(...). Mas tudo o que achei foi sobre castigar setenta vezes sete e
um bocado de judeus amaldiçoando e dando porradas uns nos outros...”.
Na segunda parte, Alex está preso
e é usado como cobaia numa experiência do governo para recuperar criminosos. A
experiência consistia em fazer o criminoso, através de lavagem cerebral,
sentir-se mal ao praticar ou presenciar atos de violência. A terceira parte
mostra a reinserção de Alex na sociedade e como os crimes praticados no passado
voltaram para assombra-lo.
“Era como se para ficar melhor eu tivesse que ficar pior”.
No início, a leitura é cansativa
por que os personagens falam uma língua inventada pelo autor, a Nadsat, uma
gíria baseada no russo e no inglês. Isso obriga o leitor a ir constantemente ao
glossário no final do livro, caso contrário pouco entenderá. Esse vai e vem
torna-se cansativo, mas depois que a gente se familiariza com as principais
palavras, fica mais fácil. Isso nas edições que tem o glossário. Elevado àcategoria
de clássico moderno, foi adaptado para o cinema em 1972 e incluído na lista da
revista Time dos 100 melhores
romances do século.
“E havia uma foto do velho amigo nu da Bíblia carregando sua cruz morro
acima, e eu disse que gostaria de estar com o martelo e os bons e velhos
pregos”.
Vale a pena levar esse soco no
estômago.
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