Se o filho ou filha de algum
conhecido diz que quer ingressar na carreira do magistério, seja por vocação ou
por falta de opção, o meu conselho é que seja qualquer coisa, qualquer coisa
mesmo. Pipoqueiro, peixeiro, feirante, camelô, motorista de ônibus, caminhão e
afins, catador de papel, obreiro em igreja evangélica, segurança de boate,
garçom de puteiro ou garçonete em restaurante de quinta, adepta de fornicações
comerciais (puta mesmo!), frentista de posto de gasolina, lavador de carros,
borracheiro, até mesmo vendedor de enciclopédias. Em qualquer ocupação
profissional no Brasil o sujeito corre o risco de ganhar mais do que um
professor, aquele palhaço que fica na frente de supostos aprendizes, fazendo de
conta que ensina em troca de algo que chamam de pagamento que, no entanto, se
assemelha mais a uma esmola.
Mesmo que não ganhe mais, mas não
estará sujeito ao rol de abusos a que um professor está sujeito, tendo que
aguentar insolência de aluno, má vontade de familiares de alunos e indiferença
do resto da população, que prefere relinchar discursos de “coitadismos” para
consolar a massa ignara que se frustra dentro das salas de aula a tentar
resolver o problema da educação nesse buraco chamado Brasil. Enquanto isso, o
professor assume sua posição de coitado, muito cômodo para quem não quer
trabalhar e ser cobrado. “Ganho mal, trabalho mal e não sou cobrado por que
ganho mal”, essa é a lógica perversa que norteia a relação entre a sociedade e
o professor.
Sem contar que com a esmola no
contracheque, a profissão só atrai aqueles que não têm outra opção a não ser a
sala de aula. Profissionais que não conseguiram fazer mais nada, não
conseguiram passar em nenhum concurso, restou-lhe a lida com crianças e jovens
que não conseguem aprender a mais elementar das lições, seja por incompetência
própria ou do professor.
Todos esses relinchos não são por
acaso. Levantamentos recentes, feitas pelo G1,
mostram que o professor ganha, em média, 57% do salário de outros
profissionais com nível superior. Ou seja, são necessários, no mínimo, dois
professores pra cada engenheiro, médico, enfermeiro ou advogado. Como
consequência, apenas 2% dos jovens que estão no ensino médio querem seguir a
carreira de magistério, segundo pesquisa da fundação Carlos Chagas. Outra
consequência é a carência de profissionais nas salas de aula: estima-se que
haja um déficit de 300 a 400 mil professores no Brasil. Não está fácil ser um
mendigo letrado no Brasil...