Tem notícias que deixam tristes.
Tem notícias que me deixam com raiva. Mas tem notícias que me dão nojo e me
revoltam. No Rio de Janeiro, a presidente do Tribunal de Justiça enviou projeto
de lei à Assembleia Legislativa que estabelece auxílio-educação de R$ 7.250,00
para pagamento de escola, uniforme e material escolar para filhos de juízes e
desembargadores. Depois de críticas recebidas, o auxílio requerido baixou para
R$ 3.030,00.
A presidente do TJ-RJ, Leila
Mariano, vê no auxílio-educação “um direito do trabalhador” e não um
privilégio, pois, ainda segundo a magistrada, “o correto seria ter vencimentos
condignos para não precisar disso”. O salário bruto de um juiz ou
desembargador, segundo a página do próprio TJ-RJ, fica em torno de R$
31.000,00.
Em Minas Gerais, o TJ aprovou o
auxílio-moradia para juízes e desembargadores, cujos salários variam de R$
22.797,33 a R$ 26.589,68. No STF, o ministro Luiz Fux estendeu esse mesmo
auxílio à todos os juízes federais cujos vencimentos ultrapassam os R$ 20.000,00.
No caso carioca, os argumentos
para justificar o auxílio-educação para uma “casta” revoltam tanto quanto o
auxílio em si. Se um salário superior a R$ 30.000,00 não é “condigno”, o que
dizer do salário da maioria esmagadora dos trabalhadores brasileiros (que não
têm auxílio nenhum)? Se o auxílio-educação é “um direito do trabalhador”, como
argumenta a magistrada carioca, cadê o dinheiro dos “outros” trabalhadores
desse país?
Independente dos argumentos que
se queiram usar para justificar tais auxílios, eles são verdadeiras anomalias. Na
lógica perversa nacional, quem ganha mais recebe auxílios, ajuda de custo,
bonificações. Para aumentar ainda mais a perversidade da lógica, quem ganha
menos recebe um benefício chamado “salário-família” que, dependendo da faixa
salarial, pode chegar a R$ 35,00. Isso mesmo! R$ 35,00 reais para, segundo a
própria legislação, “auxiliar no sustento dos filhos até 14 anos incompletos”.
Fico imaginando como seria a cara
de um juiz ou desembargador, do alto de vossas arrogâncias jurídicas, ver
impresso nos seus polpudos contracheques, os dois míseros dígitos com os quais
eles teriam que “auxiliar no sustento” dos seus mimados rebentos. Mas a lógica nacional não me permite isso...
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